Hoje, sexta-feira, enquanto escrevo estas linhas, está um belo dia solarengo e primaveril. Não me apetece nada falar do estado das coisas, mas também não posso deixar passar. O mundo está louco, corrupto, egoísta, vigarista, agressivo, invertido, dominado por lóbis, economicamente desigual. Os políticos legislam em benefício próprio. O poder são eles e os mestres banqueiros que os manietam. “Off-shores”? Não interessa nada acabar com eles. É lá que estão os dinheiros roubados aos estados por políticos e os empresários que eles ajudaram, legislando; por traficantes de droga e oligarcas; e pelos filhos da Putin que governam este nosso mundo e que não querem, nem nunca quiseram, realmente, saber de nós. Mas o Estado somos nós, o povo trabalhador supercarregado de impostos. Legislar contra os paraísos fiscais seria condenar toda uma elite europeia, e mundial, que tem grupos de pressão nos centros de decisão; seria condenar, por exemplo, o Luxemburgo, onde diariamente entram malas carregadas de dinheiro dos quatro cantos da Europa, a menos que PIG. Mas é claro que o seu ex-presidente Juncker, que “por acaso”, também é presidente da Comissão Europeia, não vai deixar isso acontecer e muito poucos dos, principescamente pagos, deputados europeus se lhe irão opor.
Em consequência deste “status quo” nós, assalariados, pequenos e médios empresários e profissionais liberais (sem ligação a redes mafiosas nacionais e internacionais), continuaremos a ser sugados até ao tutano com impostos, a nível nacional, e também local, e pagaremos, sem pestanejar, 15, 20, 35, 50, 60% do produto do nosso suor aos agiotas que nos governam, e que estupidamente elegemos e reelegemos. Em troca deste esforço, continuaremos a pagar o acesso à educação, à saúde, à justiça, entre outras obrigações que deveriam ser do Estado. Mas o este nunca tem dinheiro suficiente porque anda a arrebanhar cêntimos aos pobres enquanto permite a fuga de milhões aos ricos. Assim, iremos sempre continuar a pagar duas vezes – por via dos impostos, mas também por via das taxas e outros custos, introduzidos no sistema para obviar a défices sistémicos dos vários organismos do Estado.
Com tudo isto, os meses ficam sempre muito longos para os salários e a grande maioria fica sem dinheiro no bolso para viver, ter, viajar, educar e educar-se.
E, assim, com um povo deseducado, deprimido, económica e socialmente oprimido, e ainda por cima, estupidificado, convencido e manietado pelos “mass media”, os papéis do Panamá não passarão de um “fait divers”. Gerarão uma enorme onda de indignação no povo e, consequentemente, nalguns partidos mais à esquerda. Estes tentarão fazer aprovar projetos-lei de extinção dos paraísos fiscais, mas serão chumbados nos respetivos parlamentos pelos deputados que fazem parte deste sistema corrupto que chega às mais altas esferas detentoras do poder económico e que não estão mesmo nada interessadas em pagar impostos, logo, a contribuir para a qualidade de vida do povo em geral.
Assim tudo irá tentar mudar para depois ficar na mesma. Como o comum mortal acha que não tem qualquer forma de dar a volta a este estado das coisas, virar-se-á para as lambadas oferecidas por um ministro da Cultura boçal, mal-educado como o pai e pertencente a uma das elites supracitadas que nos tem tão mal governado desde sempre, e que, enquanto escrevo estas linhas, acabou de apresentar a demissão.
Por cá, as árvores de “grande porte” são já uma realidade na Avenida Cidade de Salamanca, pena é que não deixem de ser pequenas nas próximas décadas; muitas outras continuarão a ser decepadas e eliminadas. Entretanto vem aí uma nova FIT, uma “cidade-Natal”, uma escultura numa rotunda, principescamente paga com o meu e o vosso, aumentado, IMI. Mas também haverá foguetes com fartura, seguidos de umas larachas, mais uns discursos para graúdos e outros para as criancinhas (quando for conveniente), e nós, os “tristes da política” iremos ficar, cada vez mais, tristes e pobres com a política, os pequenos políticos e as suas pequenas, mas caras, prioridades políticas.
Por: José Carlos Lopes
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