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Os velhos lutadores

Crónica Política

O lazer é uma doença para os velhos lutadores. Lembram dos combates idos, das lutas passadas, conhecem como poucos as barricadas e as trincheiras onde responderam firme a todos os desafios.

Todos em face do mesmo desafio, iguais na fragilidade com que enfrentaram os perigos e sofreram as mesmas angústias. Mas sempre solidários, vivendo a vida pelo exemplo, sem muitas palavras. Homens e mulheres que se mostraram sempre prontos a responder à urgência de outros num tempo de incertezas.

Fizeram o seu caminho, trabalhando contra todas esperas, as respostas que tardavam, as resistências que encontraram, as dificuldades que foi necessário ultrapassar e vencer. Escolheram viver em liberdade, lutaram pelos valores em que acreditavam, correram os riscos que a emergência trazia.

Hoje, distendidos, sentem que cumpriram um desígnio, assegurando às gerações de hoje a graça de viverem em democracia e num mundo mais fácil do que aquele que encontraram. Confiam que a geração de hoje conserve esse legado e a memória de todos os testemunhos de coragem que fazem parte daquele passado.

Sempre fez parte da sua ética a recomendação de que as vitórias e os triunfos das batalhas que travaram deviam ser acompanhadas de modéstia. Cumpriram com humildade e coragem os deveres quotidianos, aceitaram os erros e os acertos com a naturalidade de quem pensa e fez.

Saíram de cena, são já passado. Deram lugar a outros, trocando as palavras pela pena, mas continuam vigilantes. Veem um povo inquieto. O lento passar do tempo, a vida que agora se gasta em pequenos nadas, à espera de movimento.

O mérito substituído pelo favor, a descriminação sem motivo, o autoritarismo sem doutrina, o planeamento sem humanismo, o programa sem alternativa, as minorias sem o respeito e um não sempre a excetuar parte das gentes. Homens e mulheres que parecem sem meios, sem forças, sem projetos, sem futuro. O combate sem metas. Os sonhos idos já gastos e os projetos que não foram já esgotados. E o nosso entendimento mais lento que o desejo e o desejo mais lento que a mudança. O lazer é mesmo uma doença!

Por: Júlio Sarmento

* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e ex-líder da Distrital do PSD da Guarda

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