O discurso moldado usa letras de plasticina. Podem ser mais grossas –veementes. Podem ser mais altas para reforçar. Mas todas estas letras se desfazem no mover dos dedos. O discurso de plasticina é colorido. Também tem a força da ilusão e portanto pode ser falso. Palavras escritas na água desfazem-se logo na letra seguinte, mas aqui duram. Pode moldar-se a pasta e ela dura. Pode existir muito tempo se nenhuma mão afaga as letras de plasticina. Escreveram as vogais a cores alegres e as consoantes a escuro. Um tabuleiro lindíssimo onde uma frase apenas se mantém. Perdi o hábito de ler o que escrevem. Não leio, também não ouço e ultimamente reparo que não lhes digo nada. São muito convictos, cheios de certezas diria que fanatizados até. Os textos dizem sempre a mesma coisa. Por vezes são deixados por pessoas díspares mas aparentemente sonhando com as mesmas coisas. São frases curtas onde se refere uma ideia. Um curso de vendas onde precisamos convencer outros de que a nossa representação é a melhor. Connosco serás sucedido. Connosco tens lucros. Estamos aqui para servir e não para nos servirmos. Eles têm talento. Alguns enchem o tabuleiro com uma palavra eficaz e às cores. Outros usam fundo franco e só negro. É uma surpresa cada vez que oferecemos o tabuleiro e, sem regras, dizemos que escreva o seu anúncio. Aquela plasticina já vendeu tudo de todas as maneiras. Podia ser papel e caneta mas com a pasta moldável reciclamos os discursos e reutilizamos o material. Isto na mão de cada um é como a política, dizia-me um aluno. Vá-se lá perceber porquê!
Por: Diogo Cabrita
