Leitores, beirões, pessoas,
Emprestem-me os vossos olhos. Escrevo aqui para elogiar Lula, não para o crucificar. Que o bem que os homens fazem lhes sobrevive e o mal é muitas vezes enterrado com os seus ossos. Que assim seja com Lula. O nobre Boaventura disse-vos que Lula era um herói do povo. Se assim foi, é vigorosa qualidade, e vigorosamente Lula respondeu por isso.
Na imprensa, sob os olhares de Boaventura e do resto, porque Boaventura é um sociólogo imparcial, como todos os outros são imparciais, aqui venho eu escrever da perseguição a Lula. Ele era amigo de Sócrates, fiel e justo com ele. Mas Boaventura diz que ele é um homem do povo, e Boaventura é um professor imparcial.
Pode ter utilizado dinheiro dos cofres públicos para pagar o mensalão. Pareceu aqui Lula ser ambicioso? Não, porque os amigos não ficaram sem nada.
Quando os pobres choraram, Lula deu-lhes um cabaz de comida. Pareceu aqui Lula ser como a Isabel Jonet? Não, porque ele foi metalúrgico e a Jonet só sabe usar talheres.
Mas Boaventura diz que Lula era honesto, e Boaventura é um professor sério. Todos viram como, durante a Quaresma, Dilma três vezes lhe ofereceu um cargo no governo, e três vezes Lula aceitou.
Mas diz Boaventura que Lula era honesto, e claro, ele é um sociólogo honrado. Não escrevo aqui para desaprovar o que escreveu Boaventura, mas apenas para escrever sobre o que sei.
Se estivesse disposto a virar os vossos corações contra Lula, contrariaria Boaventura e toda a esquerda, que, como todos sabem, são pessoas sérias e honradas. Mas não os vou contrariar. Prefiro enganar os leitores, enganar-me a mim, enganar a Oderbrecht, do que contrariar gente tão séria e honrada.
(Agradeço as preciosas contribuições de William Shakespeare, Boaventura Sousa Santos, e Brasília, sem as quais esta crónica não veria a tinta da impressão)
Por: Nuno Amaral Jerónimo