Não acontecia desde 1953. O vencedor do Óscar de Melhor Filme saiu do palco de todos os sonhos com apenas mais uma estatueta, a de Argumento Original, repetindo a escassez registada na vitória de “The Greatest Show on Earth” (1952). Numa noite até então dominada por “Mad Max: Fury Road” (2015) e “The Revenant” (2015), e com um favorito improvável a ganhar força nos bastidores – “The Big Short” (2015) –, foi “Spotlight” (2015) a fazer a festa.
As reações de surpresa começaram no Dolby Theatre em Los Angeles, mal Morgan Freeman anunciou o vencedor e alastraram-se às redes sociais e às conversas de café. No entanto, terá sido esta vitória realmente inesperada?
Não vamos manter o suspense. A resposta é não. Para começar, “Spotlight“ estava entre os três principais favoritos ao Óscar de Melhor Filme, que repartiam as atenções e os prémios mais recentes da corrida pré-Óscares. Uma história de jornalistas para o público em geral, “Spotlight” desde cedo captou a atenção dos profissionais dos media. Por isso, talvez, muitos desvalorizassem os artigos mais entusiastas a propósito deste filme.
Até janeiro, “Spotlight” figurou em diversos artigos como o grande favorito, mas, numa questão de semanas, a vitória de “The Big Short” nos PGA parecia colocar o Óscar – até então quase certo – em perigo. É que desde 2007 que o vencedor deste prémio saía dos Óscares com a estatueta de Melhor Filme.
Como resultado, publicações mais recentes já apresentavam “Spotlight” como o segundo favorito, atrás de “The Big Short”. Mas, por outro lado, será que a suposta vantagem de “The Revenant” realmente existiu? Entre artigos e atores, “Spotlight” parecia bem colocado, mas as análises – e as probabilidades, sempre elas – aos Óscares teimavam em posicioná-lo como um dos e não o derradeiro favorito.
Esteve sempre por baixo do nosso nariz. As intenções de voto não mudaram, fomos levados a crer que isso tinha acontecido por tendências recentes – quer de prémios quer mediáticas –, que esqueciam o poder de uma campanha que já era feita desde setembro. Sim, a corrida para os Óscares começa bem antes, entre o lançamento de possíveis candidatos e – não se iludam – a criação de possíveis candidatos. Será que este fenómeno vai mudar a forma como vamos antecipar os Óscares nos próximos anos?
Sara Quelhas*
*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra
**@Última Sessão