A falta de médicos na Ortopedia do Hospital Sousa Martins, na Guarda, ainda está longe de ser resolvida. Por agora a solução passa pelo protocolo com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), assinado no passado mês de fevereiro, que permite a deslocação de especialista para a Guarda para fazerem Urgências. Atualmente o serviço funciona com seis assistentes especialistas e quatro internos, do CHUC chegam mais quatro para dar apoio à Urgência e um faz colaboração cirúrgica.
Trata-se de uma solução temporária que não elimina o risco deste serviço encerrar. O diretor da Ortopedia já manifestou a sua «preocupação» para esta eventualidade numa carta enviada recentemente ao Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS). «Como diretor de serviço tenho as minhas responsabilidades e tive de alertar», afirma Luís Camarinha, avisando que «estamos subcarregados, é com o nosso esforço que o serviço tem funcionado e devido a imperativos legais e exigências corre o risco de fechar». Em causa estão as folgas e os descansos compensatórios, impostos pela lei. A dificuldade que os hospitais do interior têm em atrair médicos e a reforma de alguns profissionais levou a esta situação. Atualmente o médico mais velho da Ortopedia tem 55 anos e dois dos seis especialistas em funções no Sousa Martins são aposentados, fazendo apenas 20 horas semanais.
O diretor clínico da ULS reconhece o problema e «o esforço muito grande que tem sido feito pelos colegas para manterem o serviço e para suprir as necessidades». «Infelizmente o número de profissionais não é suficiente para podermos manter as escalas de serviço 24 sob 24 horas», que incluem a Urgência, consulta externa, enfermaria e doentes de internamento, mas Gil Berreiros lembra que «estas não são necessidades só da Guarda». Apesar das dificuldades, «temos ortopedistas todos os dias da semana», sublinha o médico, acrescentando que assim se têm evitado situações como há um ano, quando os doentes que chegavam ao Sousa Martins tiveram que ser transferidos para Viseu. De resto, o diretor clínico realça que esta carência de especialistas «não é obstáculo para que a Ortopedia tenha uma dinâmica interessante, trate bem os utentes e seja um serviço de referência na região».
Gil Barreiros reuniu na passada quinta-feira com os ortopedistas para falar das carências do serviço e dos desejos mais prementes dos profissionais. O diretor clínico comprometeu-se a comprar material e a «procurar uma estratégia» para melhorar as condições que permitam fazer na Guarda uma cirurgia mais diferenciada. Neste encontro, o responsável terá sido avisado pelos internos de que só ficam no hospital da Guarda se forem dadas essas condições. Esta é, por isso, uma preocupação de Luís Camarinha, que lembra que também depende da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS): «Se não nos der a possibilidade de progredir nós não conseguimos», garante o médico. A imposição legal de haver dois ortopedistas numa cirurgia e a lei dos descansos compensatórios vieram «diminuir a capacidade de intervenção dos próprios serviços», mas Gil Barreiros promete «tentar suprir as carência e tornar o serviço mais operacional» para que «os médicos que agora estão em formação nos tratem a nós um dia».
Encontro de Ortopedia a 2 de abril
O serviço de Ortopedia da ULS da Guarda apresentou na passada quinta-feira o Iº Encontro de Ortopedia da Guarda, que irá decorrer no auditório Dr. Lopo de Carvalho, no dia 2 de abril.
Dedicada à temática “Patologia do Pé e Tornozelo”, a iniciativa é a primeira de um ciclo de encontros dedicados a uma área em que este tipo de ações é pouco comum em Portugal. Do programa fazem parte médicos de renome nacional e internacional, o que vai «pôr a Guarda no mapa da medicina nacional», adianta Luís Camarinha. Entre os oradores convidados está António Moura, que abordará os temas “Tratamento do hallux valgus e lesões do tendão de Aquiles”; José Muras (“Tratamento da doença de Morton”) e António Andrade (“Artrodese do tornozelo”). Com esta atividade a ULS espera também contribuir para a formação dos seus internos. Eduardo Brito, um dos jovens médicos do Sousa Martins, vê este encontro como «um empurrão no sentido de melhorar, tornar mais atrativo o serviço e mostrar que estamos vivos».
Ana Eugénia Inácio