O Governo está a preparar um plano para reintroduzir o lince ibérico na Serra da Malcata, o que poderá acontecer dentro de três a cinco anos, afirmou o ministro do Ambiente na passada quinta-feira. A medida foi anunciada em plena polémica da revogação da portaria que impedia a caça naquela Reserva Natural, no concelho de Penamacor.
«Em maio, quando abrem as próximas candidaturas do POSEUR [programa operacional sustentabilidade e eficiência no uso de recurso] no domínio da conservação da natureza, vamos apresentar uma candidatura para reintroduzir o lince na Serra da Malcata», anunciou João Matos Fernandes. O governante admite que há riscos e que «a expetativa de sucesso é de em três, quatro, cinco anos podermos ter condições para que o lince possa voltar à Malcata». Para cumprir este objetivo será necessário instalar cercados com coelho bravo e «fazer alguns pequenos prados, com mosaicos na paisagem que tenham zonas de refúgio, tanto para o lince como para as presas, em associação com a gestão daquele espaço como zona de caça», acrescentou o ministro.
Em declarações à agência Lusa, João Matos Fernandes sublinhou que a existência de alimento (coelhos bravos) é fundamental para a decisão de libertar os linces. No entanto, atualmente a densidade de coelhos bravos por hectare recenseada na Serra da Malcata era de 0,29 quando o programa LIFE, que financia a reintrodução do lince na Península Ibérica, refere que tem de haver um mínimo de dois coelhos bravos por hectare, lembrou o governante, constatando não haver hoje «quaisquer condições» para a sua reintrodução naquela área protegida. Este felino está a ser reintroduzido em Portugal com sucesso no Vale do Guadiana, onde há densidade «da ordem dos 3,5 coelhos bravos por hectare, e em zonas de caça ordenada», frisou ainda.
O ministro recordou que o regresso da caça ordenada à Malcata está contemplado num plano de ordenamento da Reserva Natural e que a decisão recente surgiu «seguindo o conselho técnico do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas]». João Matos Fernandes avisou, no entanto, que «a única espécie que está previsto poder caçar-se, na melhor das hipóteses daqui a ano e meio, é o javali». Caçar outros animais, como coelhos e perdizes, continua «completamente proibido» por falta de condições. Além disso, a tutela só vai aceitar uma caça de espera ou acompanhada por um profissional que trabalhe na reserva de caça, sustentou o ministro. O presidente da Câmara de Penamacor já se congratulou com o anúncio do plano para a reintrodução do lince na Malcata.
«Lamentavelmente, no ano transato, esta Reserva Natural foi excluída do pacto para a libertação do lince em Portugal e com esta tomada de decisão do Ministério do Ambiente está a repor-se a justiça para este território», afirmou António Luís Beites. O autarca acrescentou que a zona de caça na Malcata terá «regras muito bem definidas», visará essencialmente a caça ao javali e serão mantidas zonas de total interdição, tal como prevê o plano de ordenamento. Menos confiante está o edil do Sabugal, que disse ver este anúncio «com algum descrédito, porque uma boa notícia era a Malcata se associar já aos programas de reintrodução do lince nalguns espaços a sul do país». Para António Robalo, a reintrodução do lince na Serra da Malcata «já devia de ter sido concretizada ontem, não era daqui a três, quatro ou cinco anos. Promessas destas existem todos os dias».