Estreou na salas nacionais a 17 de dezembro e as perspetivas eram as melhores. “Star Wars: O Despertar da Força” é, à data deste artigo, o segundo filme com mais faturação na história dos EUA, a um “pequeno” passo de “Avatar”, que rendeu mais de 760 milhões de dólares. Em termos de lucros a nível mundial, o filme realizado por J. J. Abrams já ultrapassou o milhão e meio de dólares, sendo o sexto mais lucrativo de sempre: com um mês nos cinemas e ainda sem ter estreado na China, tudo aponta para que venha a destronar o líder “Avatar”, que rendeu 2,788 biliões de dólares. Algo que, aliás, se antecipava desde a aquisição da Disney.
No entanto, no meio de tantos “zeros”, será que a mística se mantém? O entusiasmo global, esse, é um dado adquirido: miúdos e graúdos, que cresceram com a saga ou a descobriram recentemente, correram e continuam a correr para os cinemas. No nosso imaginário, o corajoso Han Solo tem menos rugas e cabelos brancos, mas também ele “despertou” neste filme, a lembrar as aventuras que nas décadas de 70 e 80 alimentavam o imaginário de miúdos e graúdos. Acompanhado pela Princesa Leia, Chewbacca e C3PO, entre outros, Han Solo é ainda o “padrinho” da estreia de novas personagens, como Rey, Finn e o temível Kylo Ren, que podem inclusivamente ser incluídos no leque dos protagonistas. E Luke Skywalker? Se pensam que esta família não tem mais “estragos” a fazer… Estão muito enganados!
Visualmente muito bem conseguido, fazendo jus ao seu legado, o novo “Star Wars” tem, no entanto, levantado críticas pela simplicidade da história, que dá continuidade ao sexto episódio (e terceiro filme) – “O Regresso do Jedi” (1983) –, que deixou o império galáctico às portas da mudança. Nas palavras de George Lucas, o realizador dos primeiros filmes, é uma espécie de reviver dos antigos, repetindo a fórmula de sucesso.
Ainda assim, esta questão é discutível. A simplicidade do argumento é coerente com as restantes obras, mas é rebatida pela inclusão de novas personagens, nomeadamente Rey e Finn, que colocam em causa a forma como vemos a galáxia no geral e o papel dos seus habitantes em particular. Destaque para a relevância de uma personagem feminina, num papel claramente de ação e influência no decorrer da história. Embora este tema não esteja em falta nos restantes filmes de forma evidente, é bom ver uma mulher vingar num mundo de homens… Pelo menos até 2017, uma vez que a atriz Daisy Ridley já assinou contrato até ao nono filme.
Não obstante, na génese de uma nova trilogia, que será acompanhada por filmes paralelos, nomeadamente prequelas, onde fica a mística? Bem, isso só o tempo dirá se irá sobreviver à loucura mediática que estamos a testemunhar…
Sara Quelhas*
*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra