Tal como outros filmes de António-Pedro Vasconcelos, “Amor Impossível”, o seu novo filme, aborda um tema real e negro (neste caso, a violência nas relações amorosas) capaz de sensibilizar o espectador. Porém, este “drama policial” é provavelmente o mais cru e violento da sua carreira.
Tive o privilégio de assistir à sua antestreia no dia 12 de dezembro, em Viseu, e o impacto foi opressivo. Este filme mostra o amor, o seu desencanto e suas consequências. Faz-nos refletir sobre o seu lado obscuro e mostra como o ideal e a realidade são díspares e, daí, conflituosos.
“Amor Impossível” é potente e fascinante, sobretudo pela criatividade na forma de contar a história. O “flashback”, a “desorganização” narrativa constituem a sua grande força. O filme desenrola-se entre duas histórias paralelas, ocorridas em tempos distintos. Numa delas, temos a jovem Cristina (Victória Guerra) que sonha e acredita no amor puro e ideal, mas que acaba por sofrer violentamente o seu lado mais real e negro. Noutra, temos Madalena (Soraia Chaves, mais masculina que nunca) que, ao investigar o assassinato de Cristina, acaba por se identificar com a vítima e apercebe-se do erro que é a sua relação amorosa com Marco (Ricardo Pereira).
Outros trunfos são: o ritmo, algo frenético e hipnótico; as falas naturais; a ousadia e difícil tarefa de António-Pedro Vasconcelos em recorrer, num filme de cariz real, ao insólito, conseguindo integrá-lo com harmonia; e as interpretações naturais dos atores, cujas personagens são, grosso modo, complexas. Resta dizer que a trama se passa em Viseu, qual sombrio São Francisco de “Vertigo” (Alfred Hitchcock, 1958), outra mais-valia, ao dar a conhecer parte do interior do país.
Elogios à parte, reprovo a excessiva linguagem fácil e o título, que lembra o de uma telenovela. “Amor Impossível” é um filme desconfortável, mas sedutor, que aborda o amor e a morte, ambos reais, inseparáveis e, portanto, impossíveis de não acontecer.
Miguel Moreira*
* Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Cinema pela Universidade da Beira Interior. Autor do blogue “Ziegfeld Boy”