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Portugal e Espanha, iguais mas diferentes

Quem acompanhou a campanha para as eleições gerais espanholas, que decorreram este domingo, encontrou similitudes várias com o que aconteceu meses antes em Portugal. Em especial no discurso do poder, personalizado por Mariano Rajoy em Espanha, e Passos Coelho em Portugal. Mas também no que foi a abordagem de António Costa, por cá, e de Pedro Sánchez, aqui ao lado.

Rajoy insistiu na capacidade de recuperação da economia espanhola após quatro anos de forte restrição orçamental. E falou na recuperação do desemprego, que ainda assim continua acima dos 20%. Porém, sempre omitindo que apesar de a taxa líquida de criação de postos de trabalho ser positiva, a quebra do desemprego também se deveu à diminuição da população ativa.

Semelhante à narrativa de Passos Coelho, mas com diferenças no que à base de sustentação diz respeito. É que a economia espanhola é mesmo, a seguir à Irlanda e a Malta, a economia da União Europeia com maior crescimento previsto (superior a 3%) para este ano. E por lá o grande problema verificado durante a crise – bolha imobiliária e imparidades nos bancos – foi resolvido. O sistema financeiro está hoje reestruturado, reforçado e capaz.

Mas em Portugal a opção do Governo PSD/CDS foi a de ir adiando a resolução dos problemas no sector financeiro. O Novo Banco foi gerido em função dos tempos políticos. Apesar das garantias eleitoralistas, o banco que Sérgio Monteiro quer vender deverá precisar de novo aumento de capital, já em 2016. Com custos para os mesmos de sempre. O caso do Banif é ainda pior. Adiou-se um problema para vencer eleições e cumprir o défice. A fatura final, que o novo Governo sempre imputará à coligação de direita, pois será inscrita num Orçamento Retificativo para 2015, será de 2,9 mil milhões de euros para o Estado. Também a Caixa Geral de Depósitos poderá necessitar de mais capital nos próximos meses…

Também o discurso dos principais partidos da oposição, socialistas portugueses e espanhóis, foi muito idêntico. Prometeram virar a página da austeridade e criticaram a deformação ideológica do centro-direita. Porém, nunca assumiram o papel desempenhado no rebentar das respetivas bolhas, dívida e imobiliária, mostrando incapacidade para se assumirem como verdadeiras alternativas àqueles que, governando na tormenta, pediram uma oportunidade para gerir na bonança. Lá como cá, os socialistas foram os grandes derrotados. Não convenceram os eleitores, que preferiram o mal conhecido ao incerto prometido.

Também a incerteza política que agora paira em Espanha se assemelha à situação vivida em Portugal. Com uma diferença. É que em Espanha houve muito maior clareza de posições pré-eleitorais e programas bem mais diferenciados a concurso. E agora que foi decretado o “fim da alternância” e se consagrou a morte do bipartidarismo, é tempo de negociações. Algo que já todos esperavam. E também lá poderá surgir um Governo minoritário suportado por um acordo parlamentar. Mas sem alianças maioritárias à vista, dificilmente não será liderado pelos conservadores.

Por: David Santiago

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