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Bani(f)r é que era

Eu não sei se o Banif é um sector do Bem comum, mas sei que vai sorver do que pagamos para o Bem comum mais do que um ministério pequeno ou médio recebeu durante todos este ano. Muito mais mesmo. Por exemplo, umas dez vezes o que foi o orçamento para a cultura. Mas este caso ainda podia ser sinal dos tempos. Só que é sabermos, de um dia para o outro, que por um banco que estamos a vender vamos pagar, sem pestanejar, quase 2 vezes e meia um ano de ministério da justiça, ou mais do que a despesa anual de qualquer um dos seguintes ministérios: da agricultura e do mar, da ciência e do ensino superior, da administração pública, da defesa. Até podíamos fazer conjuntos de 6 ministérios que não gastariam num ano tanto. É mesmo muito difícil levar isto a bem. Já não basta o serviço de dívida que carregamos? Já não basta os cortes que nos esmifram e que nos deixam, a quem por exemplo recebe um subsídio de natal a duodécimos (na verdade mero truque para disfarçar o brutal corte que nos levam todos os meses), a contar tostões para comprar presentes aos filhos? Não se pestaneja para pagar o lixo do Banif, mas quanto se hesita para devolver o rendimento a quem o ganha com trabalho, apenas trabalho, mas não o recebe. Não sei se é Banif, mas é mesmo exigível que este tipo de prioridades seja Banido.

Entretanto, é tornada pública uma carta, de dezembro de 2014, da comissária europeia da concorrência dirigida à ex-ministra das finanças Maria Luís Albuquerque, onde é muito abertamente assumido o adiamento da venda do Banif para não perturbar a “saída limpa” do programa de assistência. Na realidade, leia-se: um ocultamento da real condição em que se encontrava a instituição financeira, por clara iniciativa governamental. Não foi este o tipo de cumplicidade que, anteriormente, arrastara também o BES por um período de sombras e ilusões que vitimou tantas poupanças a portugueses, cá e fora do país, a tantos pensionistas e emigrantes? Não foi nessa penumbra que a informação de dentro fez valer os seus privilégios deixando a conta ao Orçamento de Estado e aos contribuintes? E como dantes, de novo a pergunta óbvia deve ser colocada: o que não fez o governador do Banco de Portugal? E por que razão não o fez? Não há despedimento por justa causa para governadores do Banco de Portugal?

A mudança de governo não pode passar sem uma mudança de governador do Banco de Portugal. Não é mais admissível a cumplicidade entre poder político, banca, entre interesses financeiros e políticos.

Por: André Barata

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