«É preciso fazer as contas do que vai custar ao país se não se adotarem políticas demográficas para que se povoe novamente o interior e se equilibre o país», apelou o presidente da Câmara da Guarda na sessão solene dos 816 anos da cidade, na passada sexta-feira.
Aludindo à política de povoamento implementada por D. Sancho I – que concedeu foral à Guarda em 1199 –, Álvaro Amaro desafiou os governantes a assumirem «políticas públicas» para povoar o interior e assim inverter a desertificação da região. «Portugal tem que fazer as contas, não apenas ao défice excessivo, às pensões e ao equilíbrio das finanças públicas, mas também aos custos gerados por esta situação de um país cada vez mais a duas velocidades», afirmou o autarca, dizendo-se esperançado que essa «mudança de paradigma» ocorra ainda na sua geração. «Se o país fizesse essas contas, talvez não houvesse só um fazedor de tesouras de tosquia atualmente e a economia pudesse tirar partido desta arte tradicional», acrescentou Álvaro Amaro, referindo-se ao artesão Mateus Filipe Miragaia, um dos homenageados no Dia da Cidade.
Num discurso de improviso, o presidente anunciou que a Câmara vai recorrer aos fundos do Portugal 2020 para recuperar o centro histórico da cidade, no âmbito da Área de Reabilitação Urbana. «O plano já foi apresentado às entidades e aos proprietários dos imóveis daquela zona e muitos deles manifestaram a intenção de recuperar as suas casas», disse. Álvaro Amaro adiantou ainda que o município encontrará «outros mecanismos» se esse financiamento não existir «para que possamos dar uma imagem mais atrativa da Guarda para que muitos mais turistas nos possam visitar». A propósito, o edil revelou que este ano «houve um incremento de 35 por cento do número de turistas que se registaram no posto de turismo».
Na sessão solene, em que participou a embaixadora de Israel, Tzipora Rimon, foram atribuídas medalhas de mérito à Dura Automotive (multinacional alemã de componentes para automóveis), ao emigrante e empresário em França Jean Pina, ao artesão Mateus Filipe Miragaia, à IPSS ADM Estrela, à Casa de Saúde Bento Menni, ao professor José Paulos e à Tuna Académica da Guarda – Copituna d’Oppidana. O presidente da Câmara também recebeu a primeira Chave de Ouro da cidade, atribuída ao abrigo do novo regulamento Municipal de Condecorações. Pouco depois foi inaugurado o “Anjo da Guarda”, uma escultura do guardense Pedro Figueiredo, na rotunda da Avenida de São Miguel. Na cerimónia, Álvaro Amaro partilhou o objetivo de «embelezar mais rotundas» da cidade com recurso aos técnicos da autarquia ou a projetos «de fora».
Quanto à obra de Pedro Figueiredo, o autarca considerou que «estamos a dar substância a um ditado popular», declarando que «o anjo é da Guarda, mas também de Portugal. Espero que haja a curiosidade das pessoas virem à Guarda ver o seu anjo». Por sua vez, o escultor sublinhou que a Guarda «é a cidade ideal para esta escultura», mas disse ser necessário que «a cidade a sinta como sendo dela». Quanto à obra, Pedro Figueiredo admitiu que as pessoas «não estão habituadas» a ver um «anjo contemporâneo», mas acredita que os guardenses vão «interiorizar esta ideia». O artista plástico referiu que o propósito é fazer «um ícone, à imagem do galo de Barcelos», para tal, dentro em breve, será possível adquirir miniaturas do anjo.
Luis Martins