O verniz estalou entre Álvaro Amaro e Joaquim Carreira na última reunião de Câmara da Guarda. As relações entre o presidente da autarquia e o vereador do PS já eram tensas e limitadas ao formal, mas passaram a ser «meramente institucionais» desde a passada segunda-feira. «A partir de agora nunca mais me dirige a palavra a não ser institucionalmente nas reuniões de Câmara. Trata-me por senhor presidente quando se dirige a mim e eu trato-o por senhor vereador», avisou Álvaro Amaro durante o período de antes da ordem do dia.
A sessão tinha tudo para ser pacífica, mas declarações do vereador socialista divulgadas nessa manhã pela Rádio Altitude, a propósito dos dois anos de mandato do presidente social-democrata, provocaram a ira de Álvaro Amaro e a indignação dos eleitos da maioria. Tudo porque Joaquim Carreira considerou que nestes dois anos «a montanha pariu um “Alvarinho”» e que o autarca daria «um bom gestor de eventos» dada a quantidade de «festas e festinhas» que a Câmara tem promovido desde 2013. O que Álvaro Amaro não gostou de ouvir foi ser chamado de «mercenário da política», pelo que aproveitou a reunião do executivo para pedir explicações ao vereador da oposição e exigir um pedido de desculpas. «Ou o senhor se retracta, pede desculpa, ou mantém o que disse e nunca mais me dirige a palavra a não ser institucionalmente nas reuniões de Câmara», declarou o autarca, acrescentando que «nunca» foi «um profissional da política, tenho profissão».
«Ser qualificado como mercenário ao fim destes anos todos é algo que não aceito nem tolero», avisou o edil. Mas Joaquim Carreira não pediu desculpa nem retirou o que disse. «Este não é o local para o fazer e, além do mais, não o faço porque o senhor presidente colocou esta questão no plano da obrigação», justificou o socialista, para quem «seria extremamente fácil explicar essa expressão dado os seus 30 anos de atividade política». O vice-presidente da Câmara também protestou contra as declarações do eleito da oposição, que classificou de «ato ignóbil e de reversão das regras democráticas». Carlos Chaves Monteiro disse-se «indignado» com as afirmações de Joaquim Carreira e afirmou que o socialista «atingiu não só o presidente, como também o executivo que foi eleito por uma esmagadora maioria de guardenses». O independente prosseguiu dizendo que, «ao furtar-se à explicação», o vereador socialista «atira para a lama os valores da ética», pois «uma retratação era o mínimo que se pedia», concluiu.
No final da reunião, aos jornalistas Joaquim Carreira afirmou sobre este caso que já está «habituado aos pequenos teatrinhos do presidente para se vitimizar. Mas eu não alinho nessa perspetiva do exercício da política». O socialista acrescentou que o que disse «é a avaliação que faço destes dois anos, pois não tenho dúvidas nenhumas que findo este mandato a Câmara da Guarda estará mais endividada». Por sua vez, Álvaro Amaro, também em declarações aos jornalistas, constatou que o eleito da oposição «não teve a coragem e a frontalidade de se explicar, ou de se retratar. Isso tem um nome, mas os guardenses julgarão esta atitude», declarou.
Mais despesa com animação de Natal
Polémica à parte – mas que teve o efeito de reduzir a reunião de Câmara a uns meros 40 minutos –, o executivo aprovou, por maioria, com a abstenção dos vereadores do PS a contratação da TVI como “media partner” na divulgação do evento “Guarda, A Cidade Natal”, que vai decorrer de 7 a 27 de dezembro.
O objetivo é divulgar os eventos e a cidade a nível nacional através de 39 spots publicitários «em horário nobre, num período compreendido entre 2 e 17 de dezembro», de acordo com a proposta da autarquia. O mesmo documento sublinha que a TVI acordou conceder «um desconto de 95 por cento sobre a sua tabela em vigor, sendo que o município vai pagar 20.522 euros, mais IVA, por essa publicidade. O executivo também aprovou, por maioria, com a abstenção dos socialistas, a contratação de um serviço de segurança para os equipamentos da “Guarda, A Cidade Natal” pelo preço de 14.720 euros, mais IVA. «Abstivemo-nos devido aos valores exagerados que já comporta este evento. Aos 400 mil euros iniciais há agora que somar estas duas verbas, e o resultado chega quase ao meio milhão de euros, o que é perfeitamente incompreensível para uma Câmara como a da Guarda», afirmou Joaquim Carreira no final da reunião.
Já Álvaro Amaro considerou que as críticas dos socialistas devem-se ao facto «de termos conseguido que uma estação de televisão nacional divulgue a Guarda por um preço vinte vezes inferior ao que custaria».
Luis Martins
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