Enquanto debicava uns pistachos em frente à televisão, fui surpreendido com mais uma daquelas notícias que nos dão vontade de emigrar para Marte.
O “dono disto tudo”, Salgado para os amigos, teve um aumento na sua reforma. Passou a dita, ou passará, para o triplo do valor, isto é, para a módica quantia de… 90 mil euros por mês! De acordo com um parecer da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, não há fundamento legal para os cortes impostos pela primeira gestão do Novo Banco às reformas dos antigos administradores do BES, estabelecidas ainda no tempo das vacas gordas e do forró financeiro que viria a desabar sobre todos nós. Quanto à questão moral subjacente, aí pelos vistos não há nem Autoridade nem Espírito Santo que nos valha. Só mesmo as cascas dos pistachos.
Para salgar ainda mais a coisa, a Procuradoria-Geral da República veio confirmar em comunicado que o Tribunal Central de Instrução Criminal decidiu reduzir a caução aplicada no processo “Monte Branco” ao ex-presidente do BES, de 3 milhões para 1,5 milhões de euros.
Porventura contaminado pelo espírito beato do novo e fugaz ministro da Administração Interna – o tal que atestou a idoneidade de Ricardo Salgado aquando da história da prenda dos 14 milhões de euros e mais tarde invocou Deus e os demónios – só me ocorre que afinal haverá outras explicações para a generosa e milionária reforma.
De facto, geralmente associo estas peripécias de um país campeão das desigualdades à palavra obscenidade, no sentido pornográfico e vulgar do termo. Mas agora, depois de Albufeira e do beato das botas altas, percebi finalmente, quiçá por inspiração divina, que o ministro da Administração Interna afinal tem razão. Deus nem sempre é nosso amigo e não será seguramente amigo dos lesados do BES e de todos os outros lesados, os portugueses. Mas Deus é pelo menos amigo de Salgado. De resto, esta deve ser uma amizade profunda. Pelo menos tem perdoado a Salgado todos os seus pecados. Talvez seja tudo responsabilidade do Espírito Santo e Calvão da Silva, o tal ministro das botas para chafurdar na lama, nos tenha sido enviado como se de um redentor se tratasse, só para nos ajudar a compreender este tipo de divinas singularidades.
Não tenho dúvidas de que Ricardo Salgado, com Deus e o Espírito Santo a jogarem na sua equipa, se vai safar desta história. E que eu, como tantos outros, pagarei o dízimos de todas estas loucuras. Por isso, meus amigos, uma coisa já eu percebi. Os pistachos já eram. A partir de agora só dará mesmo para amendoins. De preferência com piripíri. É a única forma de evitar mais salgados. Ou Salgados, por amor de Deus…
Por: Jorge Noutel