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A sorte

Bilhete Postal

Porquê eu? Porque me aconteceu a mim? Porque tenho filhos sãos e outros não? Porque me saiu este drogado e ao Afonso não? E os vizinhos? Porque tenho estes galdérios? Porque avaria o meu carro tantas vezes? Que inundação foi esta que me levou a casa? A sorte vem e escolhe. O ninho dá o destino do passarinho? A família projeta o destino ao menino? As doenças estão escritas no destino? Há predisposição e há gatilhos e há sorte em tudo isto? Descobriram os crimes do Fernando, mas o José, que é maior ladrão, passeia-se sem vergonha. A sorte é trilho ou é de Deus? Se Deus é caminho que se escolhe, porque chovem pedras no lugar imaculado? Como pode ter tanta doença o Hélder que é bom? Como pode acidentar-se o Vasco que é cuidadoso? A sorte é um processo que liga os homens à superstição. Porque a sorte existe, nascem bruxos, nascem videntes. Mas o leque das hipóteses é tão infinito que a sorte se acumula nuns espaços e o azar também. Azar é preguiça e perseverança é sorte? Há quem trabalhe e tenha má sorte. E há o verso e o avesso e o seu contrário. Claro que as rotinas diminuem os erros mas os erros não são sorte. Azar é um processo de situações que conduz a um fim não. A sorte é o sim que transporta a saúde, o dinheiro da lotaria, a relação feliz. Mas porque com todos os cuidados vem a má sorte ou o azar? Esse é o princípio da fé, mas também o começo das crenças pagãs e nesse caldo inicial do medo do infortúnio está um dos pilares do pensamento humano.

Por: Diogo Cabrita

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