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O “Data Center” da Covilhã

A cidade da Covilhã tem desde 2013 um dos maiores e mais modernos centros de dados à escala mundial. Correspondeu a um investimento na casa dos 84 milhões de euros e a vários objetivos ambiciosos, entre os quais a criação de 1400 postos de trabalho na região. Contudo, nas últimas semanas têm aparecido notícias que fazem um balanço demasiado negativo deste investimento. Sobretudo uma reportagem da RTP concluía que o Data Center “está às moscas” e que os covilhanenses pagaram e continuarão a pagar por muito tempo uma pesada fatura pelo brinquedo tecnológico. É certo que hoje o Data Center emprega apenas cerca de 200 pessoas e que a sua taxa de utilização é baixa. É certo que o retorno é por ora escasso, pelo menos olhando às expectativas iniciais.

Mas a apreensão requer atenção e não vaticínios precipitados. Este é um tipo de investimento que leva tempo a consolidar-se. O seu ciclo não é o de uma reportagem televisiva, nem sequer o de um ciclo político. Há aqui uma certa pedagogia a fazer.

Como acontece com demasiada frequência em Portugal, as dificuldades resultam menos em se avançar com um empreendimento que, pela sua grandeza e ineditismo, envolve riscos, recuos e avanços, e muito voluntarismo, do que da incapacidade em perseverar nele. Isso sim é difícil e exige tenacidade de todas as partes envolvidas. Sobretudo, parece-me exigível que a natural alternância de poder a nível local não justifique um desinvestimento político, ou mesmo um descomprometimento, que desincentive o aprofundamento do projeto. Talvez algumas opções não tenham sido felizes – como o sacrifício de um aeródromo a que, simbolicamente, a cidade estava muito ligada. E alguma infelicidade não resultou de opções. Certamente, o município da Covilhã não esperaria que a PT se metesse na embrulhada do papel comercial que consumiu, como palha a arder, 900 milhões de euros. Importa sim que Bruxelas terá de decidir até ao final do presente mês se atribui ou não verbas comunitárias, no âmbito do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional), pelo investimento feito, do que depende também a convicção dos envolvidos de que ele tem futuro. Estão em jogo mais de 17 milhões de euros. E importa porque a devolução dessas verbas poderá proporcionar oportunidades de crescimento ao projeto. Como sabemos que a carteira de clientes do Centro de Dados está a crescer paulatinamente, sabemos que a Altice, grupo francês que hoje detém a PT, também está a usá-lo. Sabemos que, no essencial, o potencial deste investimento permanece intacto. Talvez nunca chegue a dar emprego a 1400 pessoas. Mas se chegar a metade disso daqui a meia dúzia de anos, o balanço só pode ser positivo. Com toda a clareza, o tipo de investimento na Covilhã que pode ganhar resiliência é aquele que mais se interligue numa aposta de desenvolvimento como cidade universitária. Mas ninguém disse que seria fácil. O mais importante é reconhecer e retirar as consequências responsáveis de que, no que respeita a este Centro, os dados estão lançados.

Por: André Barata

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