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A sondajocracia populista não traz nada de novo

No próximo domingo têm lugar as esperadas legislativas. Será o terceiro domingo consecutivo com atos eleitorais. A chamada à colação dos dois anteriores dias santos prende-se com o facto de, em cada um deles, terem sido realizadas eleições. Na Grécia, a 20 de setembro, e na Catalunha no passado dia 27. Entre estes dois atos eleitorais e as eleições nacionais de 4 de outubro haverá inúmeros paralelismos que não fui ainda capaz de estabelecer. Mas uma coisa ficou clara. As sondagens relativas às legislativas na Grécia falharam rotundamente. Já os estudos de opinião relativos às eleições autonómicas da Catalunha acertaram praticamente em cheio.

Tudo isto a propósito da discussão nacional sobre sondagens. Há-as para todos os gostos. Feitas ao minuto, possivelmente também num minuto. Com amostras menores do que a população do edifício onde moro. E há sondagens que nem são sondagens, preciosamente designadas de inquéritos diários ou “tracking polls”.E assim ganhámos outro inglesismo para os empreendedores da moda. A diferença está lá, mas ninguém a conhece. Recuperando uma expressão já antiga do meu professor de Ciência Política, José Adelino Maltez, vivemos num regime de «propaganda e sondajocracia». Os beneficiados são os mesmos de sempre e dão pelo nome de demagogos e populistas.

Em Portugal o passado das sondagens é sobejamente conhecido e apresenta um historial que é cadastro. Seja no PS ou na coligação PSD/CDS, a notícia de que se está atrás na sondagem daquele minuto é motivo quanto baste para se reformular o conteúdo e a forma de intervir. Brasileirices à parte, o PS foi o partido que mais se autoinfligiu na sede de recuperar de sondagens negativas. Falta de preparação e incapacidade para chegar aos portugueses com uma mensagem autêntica e credível são a cenoura pendurada à frente de Duarte Cordeiro.

Já a coligação PSD/CDS optou por um caminho bem mais simples. Apostou tudo no conhecido que, mesmo sendo mau, é menos incerto e mais seguro do que o desconhecido da proposta apresentada pelo maior partido da oposição. Algo há que parece certo e é confirmado pela generalidade das sondagens instantâneas. O número de indecisos é tremendo e poderá fazer balançar uma vitória antecipadamente atribuída à abstenção para qualquer um dos dois contendores. Os indecisos terão de decidir, em primeiro lugar, se vão votar, sabendo-se que o verão deste outono é dissuasor. Só depois poderão decidir em quem votar.

Voltando aos exemplos vindos do exterior, e ignorando a barraca completa das sondagens no Reino Unido, percebemos que Portugal nada terá que ver com as eleições na Grécia, nem na Catalunha: dois atos eleitorais marcados por um forte carácter patriótico e nacionalista, onde a insatisfação perante o exterior (Bruxelas e Madrid, respetivamente) marcou pontos.

Ora, por cá nada de semelhante se passa. A escolha define-se apenas e mediocremente entre o que o PS garante ser o voto útil contra a atual maioria governativa e o voto utilitário na continuidade. Sabendo-se de antemão que, venha o que vier, nada de novo poderemos esperar.

Por: David Santiago

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