Porquê votar?
Ao longo de 41 anos de democracia sempre ouvimos dizer que o voto é a arma do povo. Votar é um direito, um dever cívico, mas é sobretudo o descarregar para o papel de todo um conceito refletindo nos traços da pequenina cruz o estado de espírito que nos anima. O pedacinho de papel que nos irão entregar no próximo domingo está carregado de simbolismo e representa, acima de tudo, a luta de milhares de mulheres e homens, por todo esse mundo fora, que em busca de uma sociedade mais justa, mais livre e mais fraterna, sempre se bateram por esse direito, tendo um número incalculável pago um preço tão elevado, arriscando a própria vida. É por isso que devemos respeito a todos esses lutadores que a História tão bem identifica, percebendo que ainda hoje há países guiados por loucos estapafúrdios que continuam a não permitir o princípio elementar da democracia.
Em 1789 apenas votaram nos Estados Gerais aqueles que tinham um emprego público, grau universitário, enquanto que em países como o Brasil só votavam homens ricos e brancos e isto sem falar nas mulheres que, ao longo de muitos e muitos anos, foram tratadas como gente sem direitos. A Guarda, mais uma vez, levou a dianteira quando a nossa concidadã Carolina Beatriz Ângelo, em 1911, se tornou na primeira mulher a quem foi concedido o direito de voto em Portugal.
O voto torna-se assim algo valioso e o ato de votar é um dos momentos solenes onde a reflexão, a consciência e a firmeza de um conceito ganham forma e traduz-se na confiança que manifestamos no presente e na promessa do futuro, que todos queremos abraçar.
Em quem votar?
Nos dias que correm a ação política é extremamente complexa apresentando todos os intervenientes medidas meritórias, benéficas misturadas, com dose quanto baste, de demagogia onde o discurso fácil, contrasta com a feira de vaidades, o impacto mediático apadrinhado por uma legião de altruístas militantes, embalados na mera lógica desinteressada de um lugar ao sol a que alguém um dia interpretou como sendo “boys” à procura de “job”.
A confrontação de ideias que identificam problemas e o encontrar de eventuais soluções parece, nesta campanha, ter ficado para outras núpcias, tendo-se apostado no frenesim das generalidades, difundidas pelos diversos espaços informativos, no ataque entre líderes partidários, na sondagem, nos comes e bebes para entreter militante e simpatizante, com os inevitáveis gastos de dinheiro. Nesta feira mediática, de escaparate duvidoso, há promessas e pregões para todos os gostos. A crise das ideologias parece estar ultrapassada ao vermos a direita a fazer o papel social de uma quase esquerda, esquerda essa que não consegue renascer das suas próprias cinzas. No entanto, e para que conste, ninguém no seu perfeito juízo irá confundir a nuvem com Juno. A direita continuará filosoficamente limitada, (i)moralmente elitista, com aproveitamento de situações que pouco ou nada têm a ver com política.
A coligação e o PS, os tais que disputam sempre o poder, esqueceram-se do programa seguindo a lógica da sua própria identidade que evidencia a existência de toda uma vasta clientela, uma (quase) de saída, e a outra, embora ainda apeada, esperando ansiosamente a boleia da nomeação, da assessoria, da benesse e das convenientes comissões de serviço.
A decisão de Votar…
Independentemente de o voto ser válido, branco ou mesmo nulo, participar é essencial, pois torna-se estritamente necessário que todos os outros não decidam por nós e onde o “laissez-faire”, o encolher de ombros, o não ir lá, o mais um ou menos um, a operação aritmética…sejam ou se tornem argumentos justificáveis.
É por toda esta cadeia de razões que o voto de todos e de cada um de nós se torna efetivamente importante. Decidir em quem se vai votar torna-se assim algo inteligente, imperioso e indispensável. Assim, no domingo, seja qual for a sua decisão, não fique em casa. Vá, vote. Decida por si. Pelo nosso futuro. Por Portugal.
Por: Albino Bárbara