1. O PCP, que representa entre 7 a 8% do eleitorado, sempre se autoproclamou como o partido do povo e dos pequenos e médios empresários. Em contrapartida, o PSD, CDS e o próprio PS, que somados valem mais de 70% dos votos, representam, dizem os comunistas, os interesses do grande capital. Das três uma: ou os portugueses são burros e, portanto, votam há 40 anos nos partidos que representam os grandes capitalistas que os exploram e humilham; ou mais de 70% dos portugueses são grandes capitalistas; ou o PCP vive há décadas fora deste mundo.
São, por isso, bonitas e comoventes as constantes proclamações de amor de Jerónimo de Sousa e dos seus camaradas ao povo, um povo sem emenda, que se recusa a sair das trevas e a ver a luz. Ainda por cima bastava pôr os olhos na Coreia do Norte, em Cuba, no Vietname ou noutros paraísos do género para o povo português perceber aquilo que anda a recusar há 40 anos.
2. Em 2011, o governo de Sócrates chamou a “troika”. Isto é um facto. Há registos em todo o lado para quem tiver graves problemas de memória. Os oligarcas (os gajos que mandam nisto) deixaram a um “provinciano”, um tipo que veio lá da província e que ninguém nos grandes círculos do poder levava a sério, fazer o trabalho sujo. Ele que queimasse as mãos. Todos os ex-líderes do PSD se demarcaram cautelosamente de Passos. São conhecidas as dificuldades que houve em arranjar ministros e secretários de Estado. Muitos eram quarta, quinta ou décima escolha. Ninguém se queria queimar. Um dia, quando as coisas melhorassem, os oligarcas voltariam a reinar como sempre reinaram. António Costa, que, à cautela, também não quis avançar em 2011 para a liderança do PS, era o homem ideal para esse regresso aos bons velhos tempos. Conhece toda a gente dos tais círculos, é amigo de muitos. O poder devia ser-lhe entregue agora de bandeja. Mas alguma coisa parece ter corrido mal. Como disse Rui Ramos no “Observador”, se calhar, muitos portugueses perceberam finalmente de que massa é feita esta gente que se acha no direito natural de dirigir e mandar nas massas «ignaras» e «estúpidas».
Por: José Carlos Lopes