Arquivo

Verdade ou consequência

Crónica Política

Dois anos de governação PSD/CDS.PP bastaram para deixar nos portugueses a generalizada sensação que a mentira, a mentira despudorada, é a arma que serve a maioria eleita para, desgovernadamente, levar até ao fim o seu mandato.

Não se traduzindo, pela habitualidade e ligeireza, numa estratégia política escamoteante do fracasso das suas investidas tendente a manipular o eleitorado, a todos se nos afigura tratar-se de uma patologia, crónica, galopante, o que assola os actuais governantes, de forma mais incisiva o primeiro ministro- a mitomania.

Prometeu o choque fiscal, o combate à evasão fiscal, a consolidação das finanças públicas, o incremento do investimento público, o estimulo ao investimento privado e estrangeiro.

Declarou guerra às listas de espera nos hospitais, prometeu consistentes reformas na justiça, no ambiente, na educação, para o desenvolvimento rural e das regiões combatendo as causas e os efeitos da interioridade.

A par, defendeu o desenvolvimento e a coesão social pelo reforço das políticas sociais, com especial atenção para os desempregados, os idosos, os jovens, os excombatentes, os excluídos.

Prometeu, em suma, e por isso e para tal ganhou os votos e a confiança dos portuguesas, governar melhor Portugal e os seus.

Nada mais falacioso. Prometendo tudo a todos, cumpriu quase nada a quase ninguém.

Mentiu.

A venda ao desbarato do património público e o recurso a receitas extraordinárias permitindo à maioria maquilhar o défice real, suscitou-lhe o sentimento de dever cumprido.

A estas e pelo mesmo desígnio juntaram-se as políticas financeiras e orçamentais restritivas que provocando o recuo da economia inviabilizaram o investimento privado e estrangeiro e consequentemente a criação de riqueza e postos de trabalho.

Resultado- disparou o desemprego. Os números não mentem, quase meio milhão de pessoas afectadas.

As falências sucederam em catadupa.

A fome, que se julgava erradicada da sociedade portuguesa, regressou às páginas dos jornais, estimando-se que 200 mil pessoas estarão em situação de privação profunda.

O rendimento mínimo garantido, instrumento de combate à pobreza e à exclusão social que os socialistas protagonizaram e que o actual executivo procurou neutralizar, vingando nas suas opções, a custo, sob nova denominação- rendimento social de inserção- registou meses a fio atrasos no seu processamento, deixando sem qualquer rendimento milhares de famílias portuguesas.

Mexendo na legislação laboral, cortaram direitos e regalias sociais adquiridas.

Na educação multiplicaram-se os escândalos das cunhas na contratação de professores, a indignação de milhares de desempregados no sector e as promessas adiadas de criação de novas universidades.

Na saúde, o crescimento das malfadadas listas de espera, as polémicas que envolveram os conselhos de administração e os directores clínicos, as contas falseadas do ministro da pasta fazendo vingar o êxito dos hospitais S.A. e a ameaça de encerramento de unidades hospitalares, como sucedeu com a maternidade do hospital distrital da Guarda.

No domínio florestal, após o flagelo a que assistimos no passado Verão, dão-nos a conhecer que a S. Pedro e aos seus incontornáveis desígnios se ficou a dever tamanho infortúnio.

Posto isto e a mentira, restar-nos-á aguardar por melhores dias. Se possível, o milagre de alguma coerência política, uma qualquer verdade.

A retoma. Durão Barroso falou-nos na retoma.

Um erro nas previsões do senhor fê-lo apontar para 2004 a retoma da economia.

Não mentiu. Errou.

Da mesma forma, induzido em erro, envolveu-nos na ocupação do Iraque.

Erros apenas, pequenas mentiras que nos têm saído caras.

A consequência ?! Chegados aqui… já ninguém acredita.

E não é mentira.

Por: Rita Cunha Mendes

Sobre o autor

Leave a Reply