Ninguém perdeu neste “campeonato do mundo”, mas nem todas as equipas puderam brilhar ao forcão. Pode-se mesmo dizer que a sorte foi madrasta com os Forcalhos, que teve o pior dos nove touros da trigésima edição do festival “Ó Forcão, Rapazes!”. No último sábado, emoção e tradição andaram de mãos dadas na praça de Aldeia da Ponte, que acolheu uma grande tarde de capeia arraiana.
O evento, organizado pelas Juntas de Aldeia da Ponte e dos Forcalhos, tinha tudo para ser memorável, desde logo porque se comemoravam 30 anos de existência e, para celebrar condignamente o acontecimento, o ganadeiro Zé Noi preparou um lote de touros imponentes e combativos, alguns dos quais com o ferro Murteira Grave. O público voltou a encher as bancadas, mas não lotou por completo o recinto – o festival aconteceu uma semana depois do habitual, quando muitos emigrantes já regressaram ao país de acolhimento. Mesmo assim, o apoio não faltou às nove equipas que pisaram a arena e para empolgar ainda mais a assistência o primeiro touro da prova fez brilhar a equipa dos Fóios. Após quatro minutos de lide ao forcão, os fojeiros revezaram-se nos recortes até agarrarem o touro. Como se não bastasse, pouco depois fizeram uma pega para gáudio do público. A primeira ovação da tarde foi então para os Fóios.
Ainda pouco refeitos desta euforia inicial, a desilusão saiu do curral para enfrentar os Forcalhos. O primeiro embate ainda gerou alguma expetativa, mas à segunda e terceira, o touro esquivou-se ao forcão e não deu hipóteses para mais nada aos representantes desta aldeia. Foi por isso um suplício chegar ao fim dos 12 minutos – o tempo dado pela organização a cada localidade. O entusiasmo voltou a seguir com a entrada em cena de Aldeia da Ponte. A jogar em casa, a equipa teve pela frente um bom touro, que propiciou fortes investidas no forcão ao ponto de levantar do chão os homens da galha direita. Este frente a frente foi várias vezes brindado com fortes aplausos, tal como o salto que um jovem elemento realizou sobre o touro.
Era o prenúncio do que estava reservado para o resto da tarde. E se houvesse dúvidas elas desvaneceram-se logo a seguir com o animal que calhou à Lageosa da Raia. Insistente e poderoso, o touro fez estragos nas galhas e até chegou a levantar o forcão, num espetáculo ovacionado por duas vezes. Era touros destes que o público queria e foi o que teve até ao final, já perto das 19h30. Depois desta exibição, o Soito também teve um adversário à altura, com três a quatro boas investidas. Mas na raia já se sabe que a especialidade dos soitenses são as pegas, pelo que foi com naturalidade que tal aconteceu a poucos segundos do final da sua participação para delírio dos seus inúmeros apoiantes.
O festival estava ao rubro quando o Ozendo entrou na praça, só que o forcão partiu-se na primeira investida, o que gerou algum pânico. O percalço foi rapidamente resolvido com o forcão alternativo e a equipa continuou a lide sem mais contrariedades. Alfaiates foi a sétima aldeia em prova e teve também a sorte de lhe sair um touro muito forte, que investiu repetidamente no forcão. Rápido, o animal fez rodar a estrutura a grande velocidade, mas os homens conseguiram dominar o animal e foram brindados com uma ovação do público. Depois, um jovem protagonizou outro grande momento da tarde ao realizar um salto mortal sobre o touro e das bancadas veio um clamor de estupefação e palmas. O espetáculo caminhava para o fim, mas a intensidade manteve-se com a atuação de Aldeia Velha. Outro bom exemplar criou algumas dificuldades a esta equipa porque tentou passar por baixo do forcão, quis contorná-lo e até andou em cima das galhas, mas o duelo terminou a favor dos homens.
Coube à vizinha Aldeia do Bispo encerrar o festival, mas o primeiro embate no forcão foi de tal maneira forte que o touro partiu um corno e só voltou a investir a espaços e com muito menos poderio. Se as lides com forcão fossem distinguidas com saídas pela porta grande, nesta edição seriam merecedores desta honra as equipas de Aldeia da Ponte, Lageosa, Alfaiates e Aldeia Velha, tal como Zé Noi pelo lote de touros que apresentou.
Luis Martins