E pronto. Já cá cantam. Férias, finalmente férias!!!…
Estendido o esqueleto nas areias loiras, aberto o livro, companheiro inseparável das horas de modorra que se escoam mais rapidamente do que o humanamente desejável, eis-me, de pés virados a poente, a espreitar os últimos raios de um pôr-do-sol que o pincel do mais realista dos pintores não enjeitaria. Talvez até o poeta se atrevesse a declamar
“Ó mar salgado, quanto do teu sal (…)”
Aqui chegado, não foram poucos os aspetos que, nos últimos tempos, chamaram a atenção do mais desatento dos cidadãos deste cantinho.
Os incêndios continuam a devastar um património que, ainda que bastas vezes seja privado, não deixa de ser de todos. Se tomarmos em linha de conta que o Estado, ele próprio, é o principal proprietário, e que não cuida da limpeza, como a lei exige, daquilo que é seu, como vai obrigar os particulares a fazê-lo?… Neste ponto o poeta continuaria
“(…) são lágrimas de Portugal (…)”
Ao percorrer as estradas herdadas dos fundos comunitários, que à época pingavam a bom pingar, é no mínimo estranho verificar o incipiente número de veículos com que nos cruzamos. Ora isto parece querer dizer que, ou houve estudos mal elaborados, ou então a alguém interessava que estes novos itinerários fossem construídos independentemente dos custos que viessem a ter. E o poeta acrescentaria
“(…) para te cruzarmos quantas mães choraram (…)
Entretanto, a bordejar as estradas já se não enxergam aqueles cartazes que, segundo notícias vindas a público não há muito, punham as pessoas a dizer o que elas, as pessoas, afinal não tinham dito. Surge agora a imagem de uma jovem que vende azeite na Hungria e a nós, pobres coitados, nos impinge promessas de que novos amanhãs cantarão. Com tantas promessas dos nossos políticos para nos levarem ao altar, lá vem o poeta, cáustico
“(…) quantas noivas ficaram por casar (…)
Levanto os olhos do teclado quando está a passar a notícia da raposa que adotou os bombeiros quando, enjaulada por mais um incêndio, se viu em palpos de aranha para sobreviver. Mais um trunfo, revestido de grande carga de humanismo, para os “soldados da paz”. E o poeta
“(…) tudo vale a pena se a alma não é pequena (…)”
Mas pronto, deixemo-nos de poesia e voltemos à realidade que é bem mais chã e, segundo parece, mais interessante. Assim sempre será possível falar, ou escrever, de futebol e daquela tirada eivada de filosofia de um ex-internacional brasileiro, de seu nome Dadá::
“Para uma problemática há sempre uma solucionática”.
Haverá???…
PS: Não poderia, ainda a propósito de férias, deixar de convidar os leitores para visitarem, em Ponte de Lima, o Museu do Brinquedo Português, espaço que, até 30 de abril de 2016, terá patente uma mostra de brinquedos da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda denominada, utilizando um neologismo da autoria de Mia Couto, “Brincriançar”.
Por: Norberto Gonçalves