P – Quais os motivos da greve de ontem (dia 19)?
R – As razões que levaram os enfermeiros a extremar a sua luta e assim aderirem à greve são muitas. Sendo de salientar a necessidade de mais emprego para colmatar a enorme carência de enfermeiros nos serviços de saúde; a injusta realidade da precariedade laboral; a exigência de desenvolvimento da carreira de enfermagem que há muitos anos se encontra congelada; o fim das 40 horas de trabalho semanal retomando às 35 horas, como a carreira especial de enfermagem consagra, e a defesa da melhoria das condições de trabalho para todos os enfermeiros tendo em conta o elevado risco e penosidade da profissão.
P – O que separa o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses do ministério da Saúde nestas matérias?
R – Essencialmente o bom senso. Ao longo de todo o processo negocial, que já decorre há alguns meses, entre o SEP e o Ministério da Saúde, este não avançou nem um milímetro em nenhuma das matérias e demonstrou não valorizar, nem respeitar a classe de enfermagem, como a sua própria máquina de contrainformação o demonstra desde que estas greves começaram, na semana passada, na capital e no sul do país. Mas os enfermeiros não pactuam com mistificações políticas em tempos de eleições nem com chantagens. Com a nossa luta daremos a resposta necessária ao ministro da Saúde e a este Governo quando apelidam de ridículas as legítimas reivindicações de um grupo profissional que está exausto, mas que não desiste de continuar a lutar e de continuar a cuidar da saúde da população portuguesa.
P – Atualmente, quais as principais dificuldades dos enfermeiros na ULS da Guarda?
R – Trata-se da sobrecarga de trabalho e alguns “atropelos” aos seus direitos, essencialmente no que diz respeito a horários de trabalho.
P – Como se poderiam resolver essas situações?
R – Admitindo mais enfermeiros e respeitando mais as leis laborais no que concerne às regras de elaboração de horários, bem como ao gozo de todos os direitos consagrados.
P – Continua a haver falta de enfermeiros nos centros de saúde e nos serviços hospitalares do distrito? Em que áreas?
R – Como já afirmei, a carência existe, sendo mais sentida nos serviços de Medicina e Urgência do Hospital Sousa Martins, serviços de Medicina, Convalescença e Urgência do Hospital de Seia, bem como no Centro de Saúde e SUB de Vila Nova de Foz Côa.
P – Pode-se dizer que sobrecarga de trabalho e precariedade são hoje sinónimos da profissão na Guarda?
R – Sobrecarga sim, nalguns serviços. Mas precariedade, felizmente, faz parte do passado. Foi uma luta difícil e demorada, mas no presente não existem falsos recibos verdes na ULS da Guarda. No entanto, embora o Conselho de Administração partilhe das nossas preocupações sobre as dotações seguras e a necessidade de admitir mais enfermeiros, o Ministério da Saúde e o Ministério das Finanças mantêm limitações burocráticas e financeiras que dificultam novas admissões.
P – Quantos enfermeiros deixaram as unidades do distrito em consequência dessas situações?
R – Do meu conhecimento foram poucos, apenas casos pontuais que emigraram, como muitos enfermeiros no nosso país. Mas os enfermeiros que no passado exerceram funções na ULS da Guarda com uma relação laboral precária, felizmente permanecem hoje na instituição com uma relação contratual permanente.
P – No dia da tomada de posse do novo Conselho de Administração da ULS, o SEP entregou ao ministro da Saúde um conjunto de reivindicações. Quantas foram resolvidas?
R – Apenas foram concretizadas algumas obras de remodelação no serviço de Urgência, estas, iniciadas aquando da segunda visita do ministro para dar posse ao atual Conselho de Administração da ULS mas que haviam sido promessa na sua primeira visita, em junho de 2014. Tudo o resto está por resolver, continuamos à espera de soluções que deem rapidamente resposta às graves carência de recursos humanos – enfermeiros, médicos e assistentes operacionais.
Perfil:
Dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses
Profissão: Enfermeiro
Naturalidade: São Romão (Seia)
Idade: 48 anos
Currículo: Especialista em enfermagem médico-cirúrgica, mestrado em Gestão de Unidades de Saúde
Livro preferido: “O perfume”, de Patrick Süskind
Filme preferido: “Gandhi”, de Richard Attenborough
Hobbies: Ler, viajar e conviver com os amigos