Recordam-se os leitores (e eleitores) de em setembro de 2009, em vésperas de eleições autárquicas, Joaquim Valente, candidato do partido socialista à autarquia, ter tirado da cartola o anúncio da instalação de um “call-center” na cidade da Guarda? Na altura, acreditando-se na propaganda partidária, seriam criados 250 postos de trabalho até 2012. A câmara fez obras e apetrechou, com dinheiro de todos nós, o pavilhão do tal “call center”, tendo gasto a módica quantia de 450 mil euros! Passados dois anos a ADECCO, a empresa responsável pelo tal “call-center”, deixou de pagar as rendas e o dito morreu sem honra nem glória, não tendo sequer sido criados 40 dos 250 prometidos empregos!
Num país em que, de acordo com notícias recentemente publicadas e não desmentidas, foram nos últimos 5 anos concedidas ajudas públicas de 10 milhões de euros a empresas para atender telefones, a autarquia da Guarda não poderia ficar de fora. A diferença é que a empresa já não se chama ADECCO, agora dá pelo nome de ALTICE, a tal que adquiriu a PT. Prometem-se, igualmente com pompa e circunstância, 180 novos empregos. E, somando-se aos 450 mil euros anteriormente gastos pelos socialistas, gastaram-se cerca de 655 mil euros! Novamente, tudo do nosso bolso!
Feitas as contas, se acreditarmos em pelo menos uma parte da propaganda feita e os trabalhadores do novo “call-center” chegarem, por exemplo, aos 80 de entre os 180 prometidos, e todos ganharem o salário mínimo nacional, a empresa terá os respetivos salários pagos por todos nós durante os próximos 17 meses…
Não desejo aqui discutir a qualidade e a precariedade dos novos postos de trabalho, sejam eles quantos forem e durem o tempo que durarem. Nem tão pouco o pormenor de contribuírem para os números do emprego e assim se conformarem à manipulação que o governo vem fazendo sobre a estatística do desemprego.
Aquilo que me preocupa é o rumo geral que estamos a seguir, enquanto sociedade. De um lado, cada vez mais empresas e corporações a concentrarem o poder económico e, indiretamente, o próprio poder político, pela via da imposição aos governos de políticas do interesse dos denominados “mercados”. Do outro, uma classe média cada vez mais enfraquecida e domesticada, que em desespero continua a votar periodicamente para se ir convencendo a si própria de que ainda vivemos em democracia.
Por definição, Máfia é uma organização criminosa cujas atividades repousam numa estratégia de infiltração da sociedade civil e das instituições em países incapazes de garantir direitos reais, de que é exemplo o emprego com qualidade e segurança. Em Portugal, pelos vistos, não precisamos disso. Temos partidos, empresas e políticos.
Por: Jorge Noutel
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