Passos Coelho, que na passada semana se afogueou a tentar desfazer a ideia de que era no Eurogrupo a principal voz de uma posição contrária a qualquer acordo com a Grécia que significasse uma alteração ao plano de resgate em vigor, encontrou a forma de o fazer ao seu melhor estilo – mentindo.
Incomodado com as notícias que davam conta de que a suas posições dentro do Eurogrupo tinham sempre como finalidade impedir qualquer solução que permitisse à Grécia uma saída, na ânsia de apresentar ao eleitorado português as vantagens de se ser um bom aluno da sra. professora Merkel, por contraponto ao insubordinado aluno grego, o primeiro-ministro, armado do que em bom português se designa por esperteza saloia, veio afirmar que, afinal, a ideia que desbloqueou as negociações com a Grécia até tinha sido dele.
E quando o país inteiro já esperava um agradecimento formal do governo grego ao papel de insubstituível desbloqueador do nosso primeiro-ministro, eis que o desmancha prazeres Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, veio dizer que, afinal, não, afinal a ideia do fundo de privatizações até era de outro, do primeiro-ministro holandês. Por azar, Passos Coelho não é coxo e assim, foi rapidamente apanhado.
Nada de novo no estilo de um primeiro-ministro e de um governo que se especializaram em mistificação, preocupados em confirmar a ideia geral de que os políticos mentem sempre. Nesta matéria, estão a ter sucesso. O mesmo não se diga da redução da dívida, que desde 2011 aumentou cerca de 60 mil milhões de euros, ou da diminuição do desemprego que, afinal, atingiu um máximo de 17,8 por cento em finai de abril, segundo o Eurostat.
A propensão para a mentira parece ser já uma imagem de marca do atual governo. A coisa começou logo em grande estilo na campanha eleitoral. Recordemos algumas pérolas de Passos Coelho em campanha: «Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate»; «Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos»; «Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos».
E agora, entrados já em campanha eleitoral informal, todo o governo parece ter adotado uma mentira, acreditando que, de tanto a repetir, possam transformá-la em verdade: a responsabilidade do resgate a Portugal e da intervenção da “troika” é do PS.
Convém não esquecer que a situação das finanças públicas em 2011 resultou da ação, e de muita inação, de todos os governos anteriores e não apenas daquele que viu a situação financeira do país agravada pela crise das dívidas soberanas, e que a necessidade de resgate foi precipitada pela recusa do PSD e PP em votarem o PEC4, ansiosos por provocarem a queda do Governo de Sócrates e regressarem ao poder. Outros países, como a Espanha, em situação financeira semelhante, implementaram programas de estabilidade com apoio da UE, sem necessidade de recorrer a situações de resgate. O mesmo poderia ter sucedido com Portugal.
Passos Coelho bem poderá dizer, e agora com verdade, que a “troika” em Portugal, por acaso, até foi ideia sua.
Por: Carlos Camejo Martins