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«Um enólogo faz 25 a 30 vindimas na vida, na nossa empresa fazemos isso num ano»

Cara a Cara – João António Santos

P – Como é que uma empresa portuguesa, a Dão Sul, chegou ao mercado brasileiro de vinhos e investiu na produção de vinhos num país sem tradição vinícola?

R – A Dão Sul é uma empresa que tem vinícolas nas principais regiões vinícolas portuguesas (Dão Douro, Bairrada, Alentejo e vinhos verdes). Desta forma desejou fazer um projeto internacional para valorizar as marcas portuguesas no Brasil e demonstrar ao mundo que a vitivinicultura portuguesa é uma das mais competentes e ousadas do mundo.

P – E qual foi o seu papel no desenvolvimento deste projeto?

R – Eu fui a pessoa escolhida pela Dão Sul para liderar este projeto desde a viticultura, enologia e administração. Além de técnico, sou também investidor no projeto.

P – Qual é a área de produção, características e localização?

R- A fazenda tem 2.000 hectares e localiza-se no sertão de Pernambuco (a 700 quilómetros de Recife). É uma região muito seca mas com um rio que faz irrigação, pelo que é uma zona produtora de frutas por excelência. Por exemplo, toda a manga que se come em Portugal é produzida nesta região. Em termos de vinhos, a nossa empresa tem 200 hectares plantados e produzimos uvas o ano todo (clima tropical seco) e vendemos atualmente cerca de 1.200.000 garrafas. Em 2018 queremos chegar aos dois milhões de garrafas.

P – Produzir vinhos nos trópicos é o sonho de qualquer vitivinicultor, porque a colheita dura todo o ano. Como se gere esta especificidade e, sobretudo, como se consegue qualidade no produto final?

R – Um enólogo faz 25 a 30 vindimas na vida, na nossa empresa fazemos isso num ano. O que acontece é que os lotes de vinha estão separados por setores de rega e cada um é independente. Assim, podamos um lote de vinha e demora o mesmo que uma vinha em Portugal, a diferença é que podamos todo o ano e colhemos todo o ano. A rega simula as estações do ano. A qualidade do produto é muito boa, pois as uvas estão muito maduras quando colhidas e extremamente doces – estamos numa região semelhante ao Alentejo, onde o Verão fica o ano inteiro.

P – Quais são as principais características que diferenciam os vinhos brasileiros dos produzidos em Portugal?

R – Os nosso vinhos são vinhos tropicais. Somos a mais jovem região do mundo e a mais diferente pelo clima. Com isso produzimos vinhos frescos, jovens e com grande potencial para produzir espumantes e vinhos tintos bem maduros.

P – É natural da Guarda e rumou ao Brasil há 12 anos. Como avalia o setor na região como observador atento, ainda que a dois mil quilómetros de distância?

R – Tenho acompanhado a evolução da região, pois fiz estágio na Adega da Covilhã e conhecia bem o setor. Algumas das vinhas que hoje estão a produzir foram acompanhadas pela AAPÌM (Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha), onde fui técnico durante oito anos. A região teve uma grande transformação pela iniciativa privada, que durante muitos anos só colocavam uvas nas cooperativas e agora têm as suas próprias vinhas e a sua adega e conseguem produzir vinhos soberbos. Mas não posso deixar de dar os parabéns às cooperativas que evoluíram e, hoje, todas têm vinhos bem elaborados e com um custo benefício muito bom.

6 – E o futuro? Vai continuar a dirigir uma empresa de vinhos no Brasil ou pretende regressar à Beira Interior?

R – A situação política do Brasil é uma incógnita, o que nos deixa sempre apreensivos. Contudo, penso ficar mais uns anos pois os meus quatro filhos estão em ótimas escolas e gostaria que se formassem no Brasil. Em termos empresariais, penso que posso ajudar muito mais as empresas portuguesas estando no Brasil do que aqui, já que hoje conheço bem o mercado e posso ajudar a divulgar os vinhos portugueses, o que sempre farei não importa a empresa ou a região vitivinícola. Da Beira Interior ficam as saudades, os amigos e a família, pena que não os posso ter ao meu lado.

Perfil:

Profissão: diretor comercial da Rio Sol (Brasil)

Naturalidade: Guarda

Idade: 46 anos

Currículo: Curso de Agronomia (Castelo Branco), técnico na Adega da Covilhã, técnico da AAPIM, na Dão-Sul e administrador da Rio Sol

Livro preferido: “A Fúria das Vinhas”, de Moita Flores

Filme preferido: “Forrest Gump”, de Robert Zemeckis

Hobby: pesca

João António Santos

Sobre o autor

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