Arquivo

Eduardo Lourenço emocionado com prémio a Agustina Bessa-Luís

Escritora venceu edição deste ano do Prémio Eduardo Lourenço após o seu nome ter sido candidatado pelo Instituto Camões

Não lhe competia fazer o elogio, mas os adjetivos não faltaram a Eduardo Lourenço para falar de Agustina Bessa-Luís, vencedora da edição deste ano do prémio batizado com o nome do ensaísta e atribuído anualmente pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI), na Guarda. «Natureza genial», «imenso poeta» ou «incomparável» foram alguns dos atributos com que o ensaísta qualificou a escritora na passada sexta-feira, durante a cerimónia de entrega do galardão.

«Este prémio tem um significado muito particular para mim», confessou Eduardo Lourenço, que é amigo da autora desde o final dos anos 60 do século passado. «Agustina Bessa-Luís é um caso à parte na literatura portuguesa. Ela é verdadeiramente uma natureza genial, mas também uma torrente indomável tal é a fulgurância da sua escrita», afirmou o filósofo no seu discurso, acrescentando que a premiada é «um imenso poeta, a categoria máxima de quem escreve». Para o ensaísta, a obra da autora de “A Sibila” só é comparável «ao mundo de António Vieira, porque incontrolável e de uma qualidade torrencial», o que exemplificou lendo duas páginas do seu último livro, intitulado “Elogio acabado”. «Ela é incomparável, hiper especial, é a grande senhora das letras portuguesas», sublinhou. Eduardo Lourenço considerou ainda que Agustina Bessa-Luís «é muito mais importante do que eu serei alguma vez. Eu, ou toda a gente que há neste país».

O pensador emocionou-se depois ao ouvir a filha de Agustina – que esteve ausente – ler a carta que esta escreveu em outubro de 1968 após o primeiro encontro de ambos em Nice (França). A artista plástica Mónica Baldaque agradeceu o prémio, no valor de 7.500 euros, dizendo que «é uma honra» para a sua mãe. «Receber um prémio que tem como patrono o professor Eduardo Lourenço é, podem crer, um facto que muito a sensibiliza pelo simbolismo que representa», declarou, referindo que Agustina e Eduardo Lourenço partilham «similitudes de infância e isso aproximou-os muito». Mónica Baldaque destacou depois o facto do CEI ter com fundadores «três entidades seculares de enorme prestígio social e cultural – a cidade da Guarda, com carta foral de 1199, e as Universidades de Coimbra e Salamanca, as mais antigas de Portugal e de Espanha – e que tem como seu diretor vitalício o senhor professor Eduardo Lourenço, pensador admirado e escutado por minha mãe, a que acresce uma amizade sólida».

Na sessão, Álvaro Amaro considerou que a galardoada é «uma figura referencial da literatura portuguesa e um expoente da cultura ibérica, que inspirou diferentes gerações de leitores, escritores e ensaístas». O presidente do município aproveitou a sessão para desafiar o CEI e os reitores das Universidades de Coimbra e Salamanca para que reflitam sobre o futuro deste prémio. «Teremos certamente oportunidade de pensar em conjunto e tentar conjugar as duas perspetivas: celebrar os valores consagrados, mas incentivar as novas valias, nos mais amplos campos criativos, de forma a promover o desenvolvimento da Guarda», justificou o edil. Por sua vez, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, adiantou que nos livros de Agustina Bessa-Luís há um «algoritmo de qualidade permanente».

Luis Martins Filha de Agustina Bessa-Luís recebeu prémio na Guarda e emocionou Eduardo Lourenço

Sobre o autor

Leave a Reply