A minha avó tornou-se um peso! Lar! A minha mãe literalmente apagou-se. Parece uma trombose. Cuidados continuados! Ele foi operado e não está bem. Eh pá, há que ir até uma instituição. Pagamos é para isso, não? Temos o direito. Como não posso deixar o trabalho não sei que fazer… Tenho o pai no hospital. Não sei tratar uma ferida! Nem quero aprender. Não sei dar de comer a um acamado! Ouvi!
O uso a internet serve para discutir com os médicos – para aprender é que não! Serve para a litigância da “incultura” atrevida. Claro que eu adoro a mãe mas acho que ela está bem no lar! Vou levar-te para os cuidados continuados e claro que vou exigir o máximo! E fazer? Não quereis fazer nada por quem fez por vós? Não quereis cuidar umas horas de quem vos apoiou anos a fio? Mas e se vomita? Não vomitaste tu? – Limpa! E se sujar a cama? Lava!
As formas do corpo e suas excrescências e seus líquidos fazem parte do todo! Sabeis que mais? A caca também é amor! Limpar-lhe as partes quando não consegue é dedicação e humildade. Lavou-te a ti! O nojo é um privilégio de quem usa “escrúpulos” para fugir do cuidar. Conheço os que cuidam e gastam com gatos mais do que ajudam a mãe ou os filhos. Conheço quem tenha crianças em sofrimento à porta e gaste o tempo todo com cães. Conheço pais inadequados que morrem sós. Conheço pessoas que em vida recolheram a solidão que agora as abraça. Mas também vi milhares de lágrimas de quem amou os filhos (muitos) e na hora do fim não estavam. E vi como morria o sorriso de quem amou tudo e se sentiu esquecido. Vi como quebrava um vidro uma mulher deixada num lar. Referências mortas, ausências do cognitivo, morte de memórias e ela perdida. Defendem com a boca, criticam o acolhimento, os profissionais, os outros, sempre outros, mas nunca os vi dar de comer, lavar, levar de passeio. Um acamado pode ir à praia! Uma cadeira com um idoso pode ir ao restaurante. Um doente pode ir de cruzeiro. Estou certo que sabe melhor viver menos tempo perto de quem se gosta, do que muito num arrumo de ausências. A moda é criar instituições muito melhores que a origem para deixar a família. Quanto mais se paga menos dói a alma? Claro que temos uma sociedade amarga onde o materialismo feroz, o vil metal e os compromissos retiram o tempo e aumentam o egoísmo. Podíamos repensar o processo mas tornou-se mais fácil depositar. Amar os cães, os caracóis, lutar pela lagosta e pela galinha descansa as almas que não se entregam à mãe. Aqui já não falo da mãe ou do pai demente, daquele que se ausentou de si e vegeta o percurso final. Falo do que me fala, do que me sorri, do que me agradece leva-lo ao jardim. Porque não o levas tu?
Por: Diogo Cabrita