Cerca de meia centena de amigos participaram na sexta-feira num jantar de desagravo a Ana Manso, após a sua absolvição pelo tribunal do crime de abuso de poder pela contratação do marido para a ULS da Guarda. O repasto pode também ter sido o ponto de partida para o regresso à política ativa da ex-dirigente e vereadora do PSD.
Na iniciativa não passou despercebida a presença de alguns dos dinamizadores e apoiantes da candidatura independente liderada por Virgílio Bento que, em setembro de 2013, não chegou a ir a votos por erros processuais. Ao que O INTERIOR apurou, atualmente, há quem veja com bons olhos esta reabilitação de Ana Manso e queira tirar partido da sua notoriedade junto dos eleitores. Recorde-se que a administradora hospitalar obteve em 2001 um dos melhores resultados eleitorais do PSD nas autárquicas na Guarda, tendo apenas perdido para Maria do Carmo por escassos 1.250 votos, naquela que foi até então a menor diferença de sempre entre os dois partidos no município da Guarda. O contexto político mudou na cidade mais alta, mas, mesmo assim, há quem pense que Ana Manso pode ser uma boa opção para encabeçar uma candidatura independente à Câmara nas autárquicas de 2017.
O INTERIOR sabe que o seu nome tem sido ventilado junto das franjas do PSD e PS como «alternativa credível» ao atual estado de coisas: o domínio absoluto de Álvaro Amaro e o apagão do PS no concelho. Na noite de sexta-feira, Ana Manso escusou-se a falar de política: «Só daqui por uns tempos, o amanhã a Deus pertence. Eu não fecho a porta, é uma questão de desafios e de oportunidades», declarou a antiga deputada a O INTERIOR. Até lá, a administradora hospitalar quis saborear o momento, afirmando que o jantar «organizado por um grupo de amigos, de todos os quadrantes políticos, é um gesto muito bonito, muito simpático, que nos toca profundamente no coração. E ficar-lhe-ei eternamente grata». António Saraiva, militante do PS e antigo diretor da extinta Agência para a Promoção da Guarda (APGUR), era um deles.
«As coisas nas instâncias devidas demonstram que tudo não passou de um pequeno “fait-divers”», declarou o arquiteto, que disse não duvidar que a Guarda tem «maltratado as pessoas que tiveram um papel relevante» na cidade. «Quando as pessoas servem, há quem se sirva delas, quando não servem esquecem-nas. Este jantar mostra que os amigos não são só para as ocasiões», acrescentou António Saraiva. Por sua vez, Santinho Pacheco justificou a presença na iniciativa por ser amigo de Ana Manso. «Estou a manifestar-lhe a felicidade que senti quando soube que tinha sido absolvida de uma série de situações que lhe tinham sido apontadas numa determinada altura do exercício das suas funções na ULS da Guarda», declarou o antigo Governador Civil da Guarda, para quem, «quando se conhece mal as pessoas e se olha apenas aos cargos, normalmente fazem-se juízos errados». No caso de Ana Manso, «sempre foi uma mulher que adora a Guarda, sempre muito interessada, terá cometido muitos erros no exercício das suas funções ou na defesa do PSD, mas é uma grande senhora e estou convencido que as pessoas da Guarda que são como Ana Manso ficaram muito contentes com a decisão judicial que a ilibou».
Durante o jantar, a responsável usou da palavra para agradecer aos amigos e para recordar que o seu Conselho de Administração lutou para «impedir que a ULS da Guarda fosse uma anexa ou filial de qualquer outra terra ou estrutura. Mas, acima de tudo, recusámos que o CA fosse um pau mandado e uma extensão de quem quer que fosse». Mais à frente, acrescentou: «Ousámos desafiar algumas incompetências e pagámos caro, pelos vistos, por essa ousadia». A terminar, Ana Manso ironizou, dizendo que o convício de sexta-feira «é um gesto tão lindo e tão nobre que quase me faz esquecer a injustiça da “mera conveniência” [a justificação apresentada pelo ministro da Saúde para a demissão do CA a que presidiu]».
Luis Martins