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A Feira

Editorial

1. Em entrevista a O INTERIOR (na semana passada), Ana Manso disse algumas coisas a reter. Desde logo, que não esquece o que padeceu durante três longos anos em que esteve à mercê da Justiça e que, injustiçada – pelo governo do seu partido que a demitiu e por todos os que a perseguiram ou abandonaram – não «esquece» o que lhe fizeram (pese embora nunca concretize quem fez e porquê). Ana Manso inicia um caminho de vitimização («vítima de uma cabala») e conclui que foi absolvida pela Justiça porque, precisamente, estava inocente e não fez nada de errado. Ana Manso sabe que a sua decisão formalmente não era ilegal, mas esquece-se que do ponto de vista moral não atuou corretamente. E sabe que a gestão de todo o processo de “transferência” ou «mobilidade» do marido do hospital de Castelo Branco para o da Guarda podia e devia ter sido tratado de outra forma. Ou, simplesmente, não devia ter acontecido, pois mesmo que perante a Lei não haja crime, eticamente é condenável. Mas o mais interessante da entrevista que deu a este jornal é a forma como fala (ou antes, não fala) do futuro. Fica claro que a ex-presidente da ULS vai voltar a «andar por aí» e que tem apetência por voltar a ser uma protagonista da vida pública da Guarda e da região.

Entretanto, um grupo de cidadãos, “amigos”, promoveu um jantar de desagravo a Ana Manso. Por coincidência, ou talvez não, lá estavam os órfãos de Virgílio Bento, os desencantados do PS e os não-alinhados do PSD (que ainda os há, por estranho que pareça). Ou seja, um grupo macrocéfalo, que conta com muitos outros que por convocação tardia, outros compromissos ou por tática não estiveram presentes, mas sabe-se que «estão solidários» com Ana Manso. E, o mais extraordinário, é que os resistentes do movimento “A Guarda Primeiro” sabem que Virgílio Bento foi tratar da sua vidinha e anseiam por um novo líder que querem apoiar entusiasticamente. Se Álvaro Amaro não cobrir Ana Manso com um manto de ouro, será ela a futura candidata à Câmara da Guarda pelo movimento independente.

2. Muito para além da dinamização que possa ser dada ou não aos santos populares e independentemente do envolvimento de mais ou menos bairros, o S. João na Guarda está enraizado, tem uma dinâmica social intensa e é vivido há muitos anos pelos guardenses com satisfação. Nos últimos anos (anterior executivo), a autarquia apostou na organização de um revivalismo de outras épocas (no Largo S. João), com cartaz cultural e animação de sucesso. O novo executivo municipal optou por um S. João de cariz mais popular, nos bairros, acabando com o programa ambicioso que durante anos caracterizou estes dias de festividade – com menos custos e mais empatia com as pessoas. Mas o mais relevante, este ano, é a mudança da Feira de S. João para o largo do mercado – é lá que, há muito, se deviam fazer as feiras e o mercado quinzenal (até que se crie um espaço central apropriado para o efeito), se bem que não entende o corte das ruas adjacentes. A Câmara da Guarda durante anos apostou no S. João como um grande evento cultural, mas deixou o âmago da jornada (a feira anual) instalado numa ribanceira sem dignidade e sem condições, onde vendedores e compradores sofriam as agruras do clima e da orografia – uma vergonha, que tardou a ser retificada. Esperemos que a solução não seja apenas para esta feira.

Luis Baptista-Martins

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