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O povo tem opinião e divulga-a sem freio, por vezes excede-se nos impropérios, quase sempre abre as emoções e fala de si. Normalmente a realidade que interessa ao povo que fala é o íntimo do seu universo. «Ao meu filho aconteceu, a mim que tenho estas doenças, vou-lhe contar como se passou comigo» e lá vem a minudência do viver de cada um convertido em motor da sociedade. Estes programas abertos à população estão na Antena 1 e na TSF todas as manhãs e debatem quase tudo o que foi capa do “Correio da Manhã”. Faz uns dias discutiam-se os pontos das novas cartas de condução, ou as novas cartas que se sustentam de pontuações. Porque mudamos as penalizações das cartas de condução? Porque mudamos uma lei? Porque os nossos ministros são vadios e percorrem o estrangeiro onde se enamoram de ideias. Preferia que tivessem casos ilícitos, que fumassem umas ganzas, mas tanta ideia importada aborrece-me. Qualquer provinciano se espanta e é bom não nos cansar de espantar. O progresso passa também por essa fascinação pelo novo, pela coisa outra nunca vista. Assim o restaurador Olex e a pasta medicinal Couto se agarraram ao “preto de cabeleira loira, ou ao branco de carapinha”, o primeiro, e ao atrevido que rodava a cadeira com os dentes, o segundo. Porque carecemos de uma nova lei? Para haver menos acidentes! Então as causas principais dos acidentes são o telemóvel e o álcool – nesta ordem –, segundo o “New England of Medicine”. A lei necessária é obrigar a colocar o telemóvel na bagageira quando viajamos. Impopular, mas eficaz. A outra lei necessária: Tolerância zero ao álcool na estrada. E onde há mais acidentes? Nas autoestradas? Não! Nas estrada secundárias porque portajamos em excesso as autoestradas. Então acabem com as Scut e com a classe 2 e temos muito menos acidentes. E porque não funcionam os reguladores referentes aos infratores? Como pode existir quem tenha conduzido cinquenta vezes sem carta, tenha sido apanhado alcoolizado dez vezes, quem tenha liberto um cão “chipado” que causou um acidente, existam dezenas de vestígios de animais mortos nas ruas, haja Câmaras que nunca cumprem as regras da estrada para obras de manutenção e ninguém, nestes e noutros crimes, seja severamente punido? E já pensaram que a proporção uma pessoa um carro é doença? Que esse é outro drama poluente e claudicante para o trânsito? A nova lei é uma bizarria da diarreia legislativa portuguesa e é no 800220101 que percebemos como a argumentação é falsa, ensopada de brilhantismo rural mas populista. Assim chovem leis de tudo, temos leis que duram sempre pouco.

Por: Diogo Cabrita

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