Duas notas desafinadas não matam a sinfonia, foi o que sempre me disseste, mas que deixa a sensação de azia aos intérpretes, isso deixa. Foi assim que ouvi as notícias de Espanha que comentavam a vontade de controlar a liberdade de imprensa. Falavam de Portugal, duma tríade partidária que gostava de saber quantos minutos, quantas intervenções negativas, quantos comentadores seriam favoráveis. Com mansas palavras cortavam-se o pio, e o número de palavras. A liberdade controlada talvez não seja liberdade… não é? Depois vieram os sussurros da prisão perpétua, do regresso do mal na sua essência perversa. Agora vai haver listas de criminosos, listas de bandidos que nos assolam as crianças. Agora vamos ter vizinhos que sabem que ao lado está um pedófilo. Vamos correr com os médicos e com os professores e com os vendedores de gelados e com os cuidadores de jardins, e com os que estando na lista contactem com crianças. Vamos começar por identificar os sem vergonha, depois isolar a sua residência, depois escolher especificamente de que se alimentam, depois apagar sua existência. A perversão de controlar a imprensa e depois criar listas de pessoas indesejáveis é o primado da ditadura. A doença da intolerância está a minar a democracia. A força do direito impede-nos de colocar uma barreira a quem use turbante, impede-nos de exilar os que não querem a liberdade, nem desejam a democracia. Depois dos pedófilos serão os violadores, depois os ladrões, mais tarde os homossexuais e a lista nunca mais terá fim. O primado da razão obriga a estudar melhor estes documentos e a impedir uma destemperada de fazer lei.
Por: Diogo Cabrita