Nadin fez-se ao lago negro. Uma luz distante mostra sombras na água. German atirou-se de cabeça. Uma roda de espuma perfeita. Há sangue no meio da aura branca. Nadin retira o cadáver de German. Nadin retira-lhe a carteira das calças. Empurra o corpo, que, morto, flutua. German saltou do penhasco e Nadin é como um pescador.
Há pessoas que se atiram e ela sabe que morrem. Morrem porque querem e ela espera. Muitos trazem a roupa na queda, mas há quem se dispa. German atirou-se do morro dos suicidas e Nadin pesca-o como pescou outros antes.
A lenda do vulto que mata quem do lago se aproxima. Este lago pertence-lhe e Nadin usa tudo para que ninguém venha. Não pode haver banhos nem festas. Este lago é uma rede de pescador para gente que quer morrer. Aqui não se brinca.
Quem brinca aleija-se nas armadilhas dela, nas agressões que lhes faz. Nadin come do bolso destas calças e das roupas que vende. Felizmente, há pessoas que se atiram e felizmente morrem. Nadin nunca antes viu German. Como aos outros, empurra-o depois de o desnudar. Fura-lhe o tronco para que mais além se inunde e afunde. Na carteira há uma carta que fala de um lugar onde gostava de ter ido. Fala de uma casa perto da praia. Fala de uma solidão ímpar. Há duas chaves. Um telemóvel sem contactos nem mensagens. Nadin decide ir de viagem.
Por: Diogo Cabrita