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Passos na Rua Direita

Anotações

A importância de uma informação, complementar nas placas toponímicas citadinas (especialmente nas zonas mais antigas), referenciando a atual e as anteriores designações, ressalta de múltiplas observações quotidianas.

Pinharanda Gomes alertou, numa das suas obras (e igualmente em vários textos) para o facto de que «a conservação dos toponímicos incólumes constitui um ato de prudência e de sapiência porque, ao mudar-se o nome de um lugar, atribuindo-lhe outro nome, porventura aleatório, é como se o nome antigo fosse arquivado e lançado ao esquecimento, pelo que a mudança de nomes censura a memória e perturba os roteiros orientativos», considerando assim a «restituição da toponímia» um ato «de honestidade cultural, de devolução do património à comunidade».

Se percorrermos o roteiro citadino, encontramos os mais variados exemplos de mudanças que romperam com a memória do passado e outrossim com a tradição.

A Rua Francisco de Passos, uma das mais movimentadas artérias da zona histórica da cidade, pode ser um exemplo. O seu nome evoca o Governador Civil da Guarda que desempenhou funções entre 11 de junho de 1926 e 25 de agosto do ano seguinte

Embora o nome do primeiro governador do período do Estado Novo lhe tenha sido atribuído, por decisão do executivo municipal da Guarda, é por Rua Direita que muitos a continuam a identificar, privilegiando assim a tradição.

A Rua Francisco de Passos – Rua Direita – constituiu a principal ligação da urbe medieval, unindo a cidadela do Torreão (também conhecida por Torre Velha da fortaleza, edificada provavelmente no século XII) à Alcáçova existente junto às portas da Covilhã (na zona em frente da Escola de Santa Clara).

Atualmente, a sua extensão está substancialmente reduzida pois este arruamento compreende o troço entre o entroncamento da Rua do Comércio, Praça Luís de Camões, Rua Augusto Gil e o Torreão; estabelece ligação, nomeadamente, com as ruas de D. Dinis, São Vicente, Largo de São Vicente, Rui de Pina e D. Sancho I.

É, sem dúvida, uma rua com história onde encontramos habitações centenárias e o edifício que funcionou (séculos XV e XVI) como Paço Episcopal; ali pode ser apreciada uma janela renascentista, «obra executada pelos artistas que estiveram a decorar a estilização da Sé Catedral, nomeadamente a Capela dos Pinas, no interior deste templo».

Uma rua que abre outras artérias aos transeuntes, remetendo-os para a (re)descoberta da zona histórica da mais alta cidade portuguesa, unindo passado e presente.

Nesta necessidade de conciliação, entre épocas, faz todo sentido a máxima clarificação na designação toponímica, e a indicação precisa de nomes e lugares.

Por: Hélder Sequeira

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