A polémica está instalada entre a Câmara da Guarda e os bombeiros do concelho, que se dizem «desconsiderados» pelos 17.500 euros concedidos este ano às três corporações. O descontentamento ficou lavrado num comunicado à população publicado nos jornais da cidade e vai traduzir-se na ausência dos voluntários na cerimónia do hastear da bandeira no 25 de abril.
Na semana passada, em meia página, as três corporações reagiram em conjunto lamentando que a autarquia, «entidade que substituímos na prestação de um serviço público que é da sua competência, trate com esta desconsideração e de forma tão injusta aqueles que diariamente fazem do lema “Vida por Vida” a sua opção». No comunicado lê-se ainda que os bombeiros «deveriam merecer por parte dos decisores políticos outro tipo de reconhecimento», acrescentando que o seu descontentamento foi transmitido a Álvaro Amaro numa reunião realizado a 16 de março. Na ocasião, o presidente da Câmara ficou também a conhecer «as previsíveis consequências» que a redução dos apoios vai ter «na diminuição da capacidade operacional no desempenho das missões de socorro que diariamente efetuamos».
Ou seja, «as reduzidas» verbas atribuídas às corporações do município – Guarda: 12.692 euros; Gonçalo: 2.830 euros; e Famalicão: 1.976 euros – são «um forte constrangimento a um adequado desempenho» dos voluntários e contrastam com o valor atribuído por outras Câmaras, «como Castelo Branco (80 mil euros mais compra de viaturas), Covilhã (48 mil euros mais compra de viaturas), Pinhel (30 mil euros mais compra de viaturas) e Sabugal (120 mil euros + compra de viaturas)», exemplificam. Contudo, apesar desta contrariedade financeira, os responsáveis das três corporações garantem, no comunicado, que vão continuar a desempenhar «da melhor forma que nos for possível a missão que nos está confiada». O diferendo esteve em destaque na última reunião de Câmara, onde o socialista Joaquim Carreira considerou que a verba atribuída «raia a humilhação». O vereador da oposição pediu a Álvaro Amaro que «repensasse» o valor e sublinhou que os bombeiros prestam um serviço «de vital importância» às populações e não devem ser comparadas a associações recreativas ou desportivas.
«Um valor inferior a 50/60 mil euros está, no caso dos voluntários da Guarda, aquém das necessidades básicas da corporação», considerou Joaquim Carreira, recordando que no executivo anterior «eram 90 mil por ano». Por sua vez, Álvaro Amaro disse ter ficado surpreendido com o comunicado e adiantou que já solicitou nova reunião aos dirigentes das Associações Humanitárias em causa, pois «quase se deixa entender [no documento] que esta situação pode por em causa a segurança de pessoas e bens». Depois, o presidente reiterou que está «fora de questão aumentar estes apoios este ano» e adiantou que entre outubro de 2013 e dezembro de 2015 a autarquia «pagará 349.344 euros às três corporações», cabendo à Guarda cerca de 203 mil euros, pouco mais de 114 mil euros para Gonçalo e mais de 31 mil para Famalicão. «São apoios pelas brigadas de primeira intervenção, combustível, equipamentos, refeições e valores de dívida que vimos pagando», especificou o edil.
Álvaro Amaro recordou também que o município não deixou de pagar as dívidas às corporações nestes 27 meses e sublinhou que não fará como o executivo de Joaquim Valente. «A Câmara anterior atribuía 90 mil euros mas depois não pagava. Comigo isso não acontecerá», prometeu. Já em 2016 a Câmara quer definir um quadro de apoios pontuais «para aquisição de equipamento e veículos» dos bombeiros.
Luis Martins