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Obstetras repudiam «mentiras e omissões» de Fernando Andrade

Presidente da ARS Centro é acusado de «manipular» a informação no caso da maternidade da Guarda

É a mais recente polémica no caso da maternidade do Hospital da Guarda. Os oito médicos do serviço de Obstetrícia do Sousa Martins repudiaram terça-feira as «mentiras e omissões» do presidente da ARS Centro (ver última edição) que acusam de ter responsabilizado, na semana passada, os obstetras pelo encerramento daquela valência numa «tentativa de manipular a informação» da população do distrito. Os clínicos apresentam em sete pontos a sua «verdade dos factos» e recusam ser os «bodes expiatórios» de uma situação que não criaram e cuja responsabilidade não aceitam. A missiva já seguiu para Coimbra, tendo Fernando Andrade como destinatário. Pode ser a recapitulação que faltava num caso que está a embaraçar cada vez mais a administração hospitalar.

Os obstetras começam por esclarecer que o serviço tinha vindo a contar, de há oito anos a esta parte, com o apoio de um pediatra em presença física 24 horas por dia, mas que em Fevereiro passado a Pediatria, por falta de recursos humanos, terá apresentado ao Conselho de Administração (CA) uma escala «em que havia vários dias do mês em branco». Ou seja, nessas datas não havia especialistas de serviço no Sousa Martins. O mesmo se passou em relação a Março, pelo que os obstetras alertaram no dia 2 de Fevereiro o CA para essa situação, responsabilizando-o «por qualquer falha na qualidade do serviço prestado» às gravidas e recém-nascidos. Contam ainda que a administração tentou que aceitassem trabalhar com o pediatra de prevenção, isto é, estando em casa e «podendo demorar dezenas de minutos» para chegar ao hospital. Mas esta solução foi «imediatamente» rejeitada pelos obstetras, «na defesa da qualidade do serviço», argumentam na carta aberta a que “O Interior” teve acesso. «Desde então, e até ao rocambolesco episódio do encerramento da maternidade, esta funcionava nos dias em que havia pediatra escalado e não funcionava quando não havia pediatra», contam. Um sistema que vigorou até ao dia em que a maternidade foi fechada, a 8 de Março. Dois dias depois, os obstetras do Sousa Martins recordam que houve nova reunião na qual o CA «conseguiu» que a Pediatria se comprometesse a apresentar uma escala para o restante mês de Março, na qual havia todos os dias um pediatra em presença física durante as 24 horas. «E no dia 10 à tarde a maternidade reabriu…», recordam.

Factos que os obstetras reputam de «verídicos», dizendo ser falso que tenham exigido um pediatra 24 horas na Maternidade. «Não queremos andar com um pediatra no bolso da bata ou a tiracolo, mas ter a certeza que, sempre que necessário, ele possa estar presente em tempo útil para que as crianças que nascem na Guarda tenham as condições mínimas para serem bem atendidas», justificam. Mas também recusaram que o serviço funcionasse com um pediatra de prevenção, por considerarem um «retrocesso» na qualidade assistêncial e um «grave risco» para a saúde dos recém-nascidos. Acusam, por outro lado, Fernando Andrade de omitir «totalmente» a falta de pediatras para preencher as escalas daquele serviço em Fevereiro e Março por a Pediatria ser «intocável, atendendo ao aproveitamento político – que foi notório – quando foi aberta a pseudo-urgência pediátrica, e que, após reclamarem os louros, seja doloroso reconhecer o falhanço na obtenção de pediatras para a Guarda». Para os obstetras teria bastado ao presidente da ARS Centro dizer que tinham sido os pediatras a ceder – «à custa do sacrifício das suas vidas pessoais» – para a verdade ser reposta nesta polémica. A finalizar, os clínicos admitem estar preocupados com o futuro do serviço na Guarda por causa de «alguns sinais que vão surgindo», como o estudo da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal, as declarações de alguns responsáveis do Centro Hospitalar da Cova da Beira nas últimas semanas e o «encerramento relâmpago» da maternidade guardense. «Não há fumo sem fogo», avisam os oito obstetras do Sousa Martins na carta.

Luis Martins

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