Desde há já algumas décadas que, quando desponta o Carnaval, a nossa região preenche os seus frios fins-de-semana com festas e eventos vários.
O fenómeno começou com as feiras de promoção do queijo da serra, programadas quase sempre para os mesmos dias em toda a região, mas estende-se agora a toda uma gama de iniciativas que pretendem dar a conhecer o melhor da produção regional.
Ao lado do queijo, surge agora um extenso número de produtos agrícolas e artesanais, em eventos de denominações várias, realizados em quase todos, senão mesmo em todos, os municípios da região.
Há feiras de tradições, exposições feiras, festas das amendoeiras, feiras de fumeiro e feiras de queijo, atropelando-se nas mesmas datas e concorrendo todas no frenesim de ganhar mais importância, de ter mais participantes e visitantes, enfim, de ser melhor que a do vizinho.
A realização destes certames não é de modo algum condenável ou criticável. A região carece de mostrar as suas produções e potenciar o seu escoamento. A aposta na valorização e incremento das atividades produtivas ligada à agricultura é decisiva se pretendermos manter uma efetiva ocupação do território nos nossos concelhos. A atração de visitantes é também crucial como forma de dinamizar o tecido produtivo local e cimentar as ainda incipientes iniciativas de alojamento turístico que vão surgindo por toda a região e se pretendem afirmar como um setor económico localmente representativo.
A sua localização temporal também me parece adequada. A Beira Serra tem como principal atrativo para o visitante o seu ícone principal e unificador – a Serra da Estrela, e é nesta época em que habitualmente recebe maior número de pessoas, mercê da possibilidade de neve e da pausa escolar do carnaval. É assim natural que os municípios da região programem estas suas atividades para uma temporada em que o “destino âncora” regional se mostra mais apelativo e com maiores potencialidades de atracão de visitantes.
O que não entendo, é a razão pela qual todos estes eventos, que sem dúvida contribuem decisivamente para uma animação inabitual na nossa região e para dar um pouco de fôlego a muita da nossa tão depauperada atividade económica, surgem desgarrados, publicitados cada um por si, desinseridos de uma programação global que possa projetar toda a região da Beira Serra como um destino de viagem turística.
Uma sã concorrência, com alguns laivos de bairrismo, entre os municípios, que desejam sempre ter uma melhor feira que a do vizinho, não é incompatível com uma leal e efetiva cooperação na programação das diversas atividades e, sobretudo, na sua publicitação e divulgação conjunta. Das sinergias nascem sempre vantagens comuns, e este é um campo emblemático em que a cooperação intermunicipal poderia contribuir para a afirmação de uma imagem e identidade regional.
Tudo isto me parece evidente e, estou certo, é também evidente para quase todos. Contudo, há evidências que demoram demasiado tempo a ser demonstradas.
Por: Carlos Martins