Alimentado pelo calor do Sol, o estado do tempo é um sistema de ciclos e de forças no seio da atmosfera, o manto de ar que rodeia o nosso planeta. Vastas ondas de ar e turbilhões de nuvens circulam em padrões complexos e em mudança constante, dando origem a ventos, tempestades e outros fenómenos atmosféricos.
A previsão meteorológica é hoje um processo complexo e altamente técnico, dependendo de observações, imagens de satélite, radares e simulações de computador. Evoluiu-se muito desde os tempos das superstições. E como eram essas lendas?
Os povos antigos reagiam muitas vezes ao estado do tempo de uma maneira supersticiosa. Acreditavam que os deuses controlavam os ventos, a chuva e o Sol. Quando as condições meteorológicas eram favoráveis, haveria uma grande abundância de animais para caçar e peixes para apanhar, e as plantações renderiam colheitas generosas. Contudo, o seu sustento estava à mercê da instabilidade do tempo: as tempestades violentas eram capazes de danificar aldeias, de destruir plantações e de gerar inundações que podiam arrastar o gado. Em tempo de seca, a escassez de alimentos e a fome eram uma ameaça constante.
Os povos antigos acreditavam que os imprevistos do tempo estavam intrinsecamente ligados ao estado de espirito e às atitudes dos seus deuses. Por esta razão, gastavam muito tempo e esforços tentando apaziguá-los. Os egípcios celebravam Rá, o deus-Sol. Tor era o deus nórdico dos trovões e dos relâmpagos, um deus a quem deveriam agradar para que as águas tranquilas agraciassem as suas expedições marítimas.
Apesar destas superstições, várias civilizações antigas recorreram às observações astronómicas para vigiarem as alterações estacionais. Os chineses inventaram, por volta do ano 300 a.C., um calendário que dividia o ano em 24 festivais e descrevia os estados de tempo associadas a cada um. A primeira referência a um udómetro (instrumento destinado a medir a quantidade de chuva que cai num dado lugar e em determinado tempo) registou-se na Índia por alturas de 300 a.C. O estudo dos céus também permitiu prever as mudanças do estado do tempo: os assírios associavam os halos (círculo luminoso que às vezes se nota em volta do Sol e de alguns planetas devido a certo estado da atmosfera) à aproximação da chuva.
O início científico
As primeiras tentativas científicas para compreender o estado do tempo remontam o livro “Meteorologica”, do filósofo grego Aristóteles (384 a 322 a.C). O tratado foi uma tentativa ambiciosa para descrever o mundo físico e o seu título deu origem ao termo meteorologista. Teofrasto, pupilo de Aristóteles, deu seguimento à obra com “Sobre os Sinais do Tempo”, que enumerava 50 tipos de tempestade, 80 de chuva e 45 de vento.
À semelhança de Aristóteles, as suas observações eram mistas, com algumas deduções argutas e algumas premissas mal orientadas. Também os sábios romanos demonstraram interesse pela meteorologia. A obra monumental de Plínio, o Velho (23 a 79 d.C.), “Historia Naturalis” compila registos, observações e superstições do Egipto, da Babilónia, da Grécia e de Roma, alguns deles exatos e outros perpetuando mitos dos primórdios dos tempos. Quando o Império Romano se desmoronou, no século V d.C., as diligências científicas ficaram confinadas ao mundo islâmico.
Um belo exemplo da tentativa de uma civilização antiga para explicar o estado do tempo associando um fenómeno particular com a sua própria divindade mítica é a estrutura conhecida como a Torre dos Ventos. Construída em mármore por volta do ano 100 a.C., continua em pé e em excelente estado de conservação em Atenas, na Grécia. Em cada lado deste edifício octogonal está representada, num friso decorativo, uma personificação masculina do vento do lado para onde está voltado. No seu estado original havia relógios de sol nas paredes exteriores e um relógio de água no interior. Em 1840, a torre foi libertada dos escombros e restaurada durante a Primeira Guerra Mundial, tendo sido intervencionada novamente em meados da década de 1970.
Mas a evolução das metodologias utilizadas nas previsões meteorológicas não ficam por aqui. Na próxima crónica iremos olhar desde o Renascimento até aos nossos dias.
Por: António Costa