A vitória do partido Syrisa nas eleições legislativas da Grécia é um facto político de incontornável importância sobre o qual muito se tem falado e se irá falar.
Foi indiscutivelmente um voto de protesto, não apenas contra a austeridade, mas também, penalizando o PASOK, o partido socialista grego, muito responsável pelo endividamento da economia helénica.
Foi ainda uma vitória da democracia, como democráticas foram também todas as eleições anteriores na Grécia, pois foi sempre em democracia que os gregos escolheram ao longo dos anos a sua política económica e o caminho que os conduziu até aqui.
Porque os gregos sempre escolheram em democracia o seu caminho, não podem ser vistos como vítimas, a não ser das suas próprias escolhas políticas.
A política de austeridade imposta à Grécia, no quadro dos compromissos de política orçamental europeia, incluiu já o perdão de quase 100 mil milhões de euros e ainda o financiamento de 250 mil milhões de euros para apoio ao Estado grego em condições muito vantajosas, com carência de amortização até 2020.
Porém, apesar da austeridade imposta na Grécia, foi manifesto que os gregos não quiseram fazer as reformas que se impunham.
Do ponto de vista político, o que vier a acontecer na Grécia, o sucesso ou insucesso do governo do Syriza, marcará sem dúvida a evolução do cenário político dos países do sul da Europa.
A vitória do Syrisa na Grécia e a popularidade do Podemos em Espanha representam uma nova configuração da esquerda, resultado da fragmentação eleitoral dos partidos socialistas grego e espanhol, incapazes de representar a alternativa política para os seus tradicionais eleitorados.
É um desafio para o PS e para o PSD que, se continuarem a não se entender e a defender primeiro os seus interesses antes do interesse do país, bem merecem ser substituídos.
Do ponto de vista económico são três as questões que relevam: a reestruturação da dívida, a austeridade e o crescimento. Quanto a restruturação da dívida, poderá a Grécia conseguir alguma margem no alargamento das maturidades dos empréstimos, ou dos juros, mas não obterá qualquer perdão de capital.
Conseguirá por certo mudar o nome a “troika”, porque nisto de mudar o nome da coisa a esquerda é fantástica! O verdadeiro processo que conduzirá no futuro a um perdão parcial da dívida, porque é impagável, está já nas intenções do Banco Central Europeu, que adquirindo dívida pública na dimensão que foi anunciada, inevitavelmente, daqui a meia dúzia de anos, poderá levar a um perdão parcial. É já uma intenção quase anunciada, mas acontecerá por iniciativa do BCE e nunca por pressão de qualquer Estado.
Até lá, a gestão que o Governo português vem fazendo é correta, recorrendo ao mercado para alargar as maturidades e baixar o juro, reembolsando o FMI por encontrar melhores condições, conseguindo reduzir quase para metade o esforço do serviço da dívida.
Quanto à política de austeridade, o verdadeiro significado da vitória do Syrisa está na necessidade de existir sensibilidade política para reconhecer o limite social ao esforço e sacrifício que é pedido aos cidadãos e às empresas.
Neste contexto, o Governo português tem lições a tirar, pois é necessário moderar e aliviar o esforço fiscal existente e relançar a competitividade da economia.
Porém, não tenhamos ilusões, nada será como dantes, quando desperdiçámos recursos para investimento não reprodutivo e elevámos a dívida e o défice do Estado a limites insuportáveis.
A Europa construiu um Estado Social demasiado pesado, não sustentável, que tem de ser reformado com critério e rigor, mas com o contributo da Comissão Europeia e dos Estados no sentido de menos Estado e mais economia, de menos Administração e mais e melhor cidadania.
Ora é este o principal desafio que se coloca a Portugal e a Europa.
Até lá, eu não sou syrisa. Sou português e cidadão europeu!
Por: Júlio Sarmento
* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e antigo líder da Distrital da Guarda do PSD