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Indemnização já

Bilhete Postal

Conheço milhares de pessoas com uma desfocagem discursiva sobre a realidade, mas este tipo de retórica da exigência está longe de corresponder a uma inserção social. Vão para baixo de um penhasco e apesar dos avisos para o evitarem, alapam como jacarés. Depois, feridos, gritam por socorro e pedem explicações. Como pode um penhasco abater? Pois porque é um penhasco instável, uma arriba, uma parede de arenosos e elas tombam. Outros vão para perto do mar e afogam-se na onda veloz. Como pode o mar vir tão depressa? Como pode haver ondas destas no mar? Pois porque é o mar, e o mar é do mostrengo e ele ergue-se no ar. Outros espantados descobrem uma doença hereditária, uma tendência, um gatilho genético. Mas porquê? Pois porque os Espírito Santo herdam dinheiro e você herda citosina e timina mais adenina e guanina. Peça indemnização aos pais. A vida tem um imponderável, tem uma variabilidade que condiciona os resultados. Desde o estado de alma, a dor de cotovelo, a dor de corno, até ao salário, a presença de gente que se gosta, a presença de vento, de frio, tudo condiciona a variável dos resultados. No humanamente verificável há variações enormes, na natureza elas crescem exponencialmente. A mesma viagem pode ser uma aventura ou um aborrecimento. Claro que se construímos a casa num caminho de águas, ou junto a um vulcão, ou próximo de uma reserva de caça, temos de contar com mais umas variáveis. O ridículo e o disparate cresce da ideia de que se pode ser indemnizado por tudo e por nada. O furacão, o mar, o fogo, o calor, a epidemia não prestam cuidados de saúde, não nos dão importância nenhuma.

Por: Diogo Cabrita

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