O interior do planeta Terra sempre fascinou a ciência e a sociedade, tanto que Jules Verne escreveu um livro sobre esta temática. Espreitar o interior e, em especial, imaginar as formas de chegar ao “centro da Terra” constitui desde sempre um valioso objeto de estudo e de trabalho. Para a geologia em particular, o centro da Terra é o ponto de partida desta viagem, e não a meta.
A viagem “a partir do centro da Terra” começaria então no núcleo (mais imaginado do que conhecido) para alcançar a crosta exterior sólida do globo terrestre, lugar onde o Homem desenvolve a sua vida quotidiana. A partir do núcleo interno sólido e passando pelo núcleo externo fluído, o percurso continua no manto terrestre: uma zona de transição com a crosta através da astenosfera, de onde derivam as placas da crosta ou litosfera. Finalmente, o percurso requer uma análise dos fenómenos que são responsáveis por modelar a paisagem que nos rodeia e uma descrição das disciplinas científicas que se dedicam ao estudo de cada um dos temas.
Demos, então, inicio à nossa viagem começando no núcleo terrestre.
Supõe-se que o núcleo da Terra é uma gigantesca esfera metálica cujo raio seria aproximadamente 3.400 quilómetros (um tamanho semelhante ao planeta Marte). Este núcleo é formado principalmente por ferro, com algum níquel e agregados de cobre, oxigénio e enxofre, e divide-se em duas partes: um núcleo interno sólido e um núcleo externo líquido. Enquanto o raio do primeiro seria cerca de 1.100 quilómetros, o do segundo seria de aproximadamente 2.300.
O núcleo interno comportar-se-ia como um sólido e a sua temperatura poderia variar entre os 4.000 e os 5.000 graus Celsius. Os cientistas consideram que o núcleo interno sólido é o resultado do arrefecimento paulatino do núcleo externo líquido. Dado que se supõe que, no limite como o núcleo interior, a temperatura desce abaixo do ponto de fusão, isto faria com que o núcleo interno se cristalizasse e crescesse dentro do núcleo externo. É provável, então, que esse processo de crescimento do núcleo continue até chegar um momento em que já não existia núcleo exterior líquido.
A energia calorífica do núcleo tem influência no manto, em particular nas correntes de convecção (assim se chamam as correntes geradas pela subida de material quente e sua posterior descida depois de arrefecer). Hoje existe também a hipótese de que o núcleo interno possui um movimento de rotação.
Tanto as pressões como as temperaturas no centro da Terra são colossais e, neste momento, é impossível recriar estas condições em laboratório. A maioria dos trabalhos geológicos cujo objetivo é determinar a estrutura terrestre interna baseia-se em procedimentos indiretos. O mais importante são as análises da propagação das ondas sísmicas, pelo interior da Terra, e a observação, comparação e análise de meteoritos ricos em ferro, que também devem conter algumas impurezas como oxigénio, silício, enxofre, hidrogénio e magnésio (a densidade do núcleo é demasiada baixa para que seja de ferro puro).
Pensa-se que o níquel é a impureza mais significativa na composição do núcleo, já que constitui entre 5 e 15 por cento. Dado que o níquel (Ni) e o ferro (Fe) são os seus componentes principais, o núcleo também recebe o nome de “nife”. No entanto, alguns cientistas supõem que os elementos da liga não são importantes para determinar as propriedades estruturais e elásticas do núcleo.
Muito haveria para dizer sobre o núcleo, mas vamos, na próxima edição, continuar com a nossa caminhada ao longo do centro da Terra.
Por: António Costa