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O espírito do Natal

Agora Digo Eu

Noel Mckeegan, editor da empresa tecnológica Gizmag, apresentou este ano uma lista de ofertas para gente que já tem (quase) tudo: Um jacto ao estilo “Top Gun” no valor de 7 milhões de dólares; um Ferrari de pulso estimado em 350 mil dólares; uma sanita, que mais parece um trono, valendo 7 mil e um amplificador de 2 milhões, com 160 mil watts de potência e mais de uma tonelada de peso. Não fosse o absurdo de tudo isto, diria que este tipo de presentes obrigam-nos a cair em nós e refletir a outra realidade.

Em França existe o chamado imposto de solidariedade sobre fortunas e patrimónios superiores a 800 mil euros. Em Portugal, as fortunas não são taxadas. É talvez por isso que é possível e provável que um punhado de portugueses se tornem clientes da empresa de Mckeegan enquanto a grande maioria se limita, com muito esforço e coragem, a comprar os seus pequenos/grandes presentes natalícios, sobrando mesmo muito mês e faltando muito dinheiro.

Nesta crise anunciada, sem fim à vista, pensada e consumada por quem tinha todo o interesse em desregular os mercados, no contraste do país dos contrastes, é notória a aplicação prática do princípio liberal de tudo vender, afirmando que o mundo do trabalho está cada vez mais instável devido à globalização, tendo em conta a forte concorrência internacional, tornando possível e importante colocar nas mãos dos empresários mecanismos que levem com facilidade ao despedimento e, depois lá temos um batalhão de desempregados, neste universo que cria todos os dias todos novos pobres. Dois milhões de pobres efetivos, mais dois milhões do salário mínimo e quase outros tantos beneficiários da reforma mínima e isto sem esquecer os novos emigrantes, que embora não perguntem ao vento que passa notícias do seu país, vão vendo, ouvindo e lendo, através da mensagem, do email, do face, do telemóvel e que em pleno século XXI foram (quase) obrigados a seguir o conselho liberalóide, muito parecido ao conceito salazarista, tornando-os em tudo idênticos aos aventureiros dos anos 60.

Razão tinha Marx quando escreveu que «a história repete-se. A primeira vez como tragédia. A segunda como farsa». O Natal é tempo de paz. Mas também é tempo de reflexão. É tempo de procurar intensamente a estrela perdida no universo da imaginação. De dizer aos grandes e poderosos que a ideia mercantilista de um mundo a várias velocidades é um erro tremendo. Conscientemente temos de assumir a ideia e a prática diária da compreensão e tolerância num mundo multicultural onde as diferenças devem ser respeitadas, excluindo, em definitivo, todas as formas de violência, de racismo e de pobreza. E isto não é sonho. Não pode ser utopia. O espírito do Natal, na minha humilde opinião, só pode ser este.

Assim sendo, resta-me desejar a todos os nossos leitores Boas Festas. Um feliz e santo Natal.

Por: Albino Bárbara

* Escreve quinzenalmente

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