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Frank: máscaras que revelam

Opinião – Ovo de Colombo

“Frank” (2014) é um filme apaixonante que mistura a versatilidade da tela com música, expressão e identidade. A máscara gigantesca, que ocupa a cabeça de Frank (Michael Fassbender), reforça uma sensação de anonimato que facilita a sua integração, mas também põe em causa aspetos essenciais do relacionamento humano.

A ação começa com Jon Burroughs (Domhnall Gleeson, que recentemente brilhou em “About Time”), um músico mal sucedido e que procura inspiração para as suas letras nas pequenas coisas do dia-a-dia. O início do filme leva-nos a assumir o ponto de partida desta personagem que, em certa medida, é também uma caricatura de uma geração sem rumo: Jon passa os seus dias numa secretária, incapaz de seguir a sua vocação ou de lutar por ela assertivamente. A mudança é consequência de um mero acaso, que o coloca no caminho de uma banda bastante peculiar.

O vocalista é Frank que, ao mesmo tempo, é o elo de ligação de um grupo de pessoas que procura o seu lugar no mundo. Nenhum se sente bem na pele que “veste”, o que é corporizado pela personagem de Fassbender, sendo através da música que se encontram e exploram não só as suas capacidades, mas também as da natureza e dos objetos. O processo criativo é quase uma loucura consentida, onde cada um procura ir para além de si próprio e, em conjunto, acrescentar algo à música e ao que já foi feito até ali.

Há ainda uma realidade mediática, nomeadamente com o “papel” do Twitter ou do Youtube – onde, atualmente, as bandas podem mostrar o seu trabalho a todo o mundo. Estas ferramentas contrastam e desafiam o isolamento vivido pelo grupo antes da chegada de Jon, bem como eventuais diferenças entre o “feedback” nas redes sociais e o êxito (ou reconhecimento) real. Por seu lado, há, por diversas vezes, filmagens que sugerem a revelação do mistério que envolve a máscara de Frank para, de seguida, nos premiarem com a manutenção do mesmo: até quando?

Apesar de ter um dos atores mais promissores da atualidade, Michael Fassbender (que em breve será Steve Jobs no cinema), o filme opta por escondê-lo. Mas não o esconde, pura e simplesmente: tem a capacidade de, evitando as “distrações” potenciadas pelo rosto, despertar a nossa atenção para outros aspetos, nomeadamente a forma como a música pode ser um refúgio e uma terapia – e até mediar a relação com os outros. No entanto, a natureza humana torna difícil uma convivência “instrumental”, pelo que a procura do rosto é também interior à tela, onde Jon tenta perceber quem é Frank, por um lado, e que motivos podem levá-lo a viver atrás de uma máscara, por outro. “Frank” (2014) estreou-se nos cinemas portugueses em outubro, depois de quase um ano a viajar um pouco por todo o mundo, sobretudo em festivais.

Sara Quelhas*

@Última Sessão (fb.com/ultimasessao.cinema)

*Mestranda em Estudos Fílmicos e da Imagem (Mestrado em Estudos Artísticos) na Universidade de Coimbra

Sobre o autor

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