Na Terra do Faz-de-Conta, que ao que por aí se diz, fica naquele cometa onde ainda a semana passada poisou uma geringonça desenvolvida por terráqueos, vivem uns alienígenas que… fazem de conta.
Fazem de conta que têm uma justiça cega, que castiga todos por igual sem olhar a estatutos ou a contas bancárias mais ou menos legais.
Fazem de conta que têm um Serviço Nacional de Saúde que permite a todos o acesso a cuidados primários de saúde quando deles precisam. Isto sem olhar à carteira do cidadão.
Fazem de conta que têm uma classe política altamente capaz de gerir os destinos da sua Terra do Faz-de-Conta.
Fazem de conta que serão capazes de perpetuar gerações dado que existe pleno emprego e, por mais especializados que os seus cidadãos sejam, não necessitarão de pegar na trouxa e dar às de vila diogo em busca de poiso melhor.
Fazem de conta que têm garantida a sua soberania perante as investidas mais ou menos diretas, de maior ou menos pendor económico-imperialista.
Fazem de conta que a sua agricultura será o garante do futuro.
Fazem de conta que a sua Zona Económica Exclusiva é realmente sua e que, como tal, por eles deve ser explorada e ambientalmente defendida.
Fazem de conta que nunca, mas mesmo nunca, venderão um palmo de solo pátrio que seja, nem que chovam milhões por uma casa mais ou menos sumptuosa.
Fazem de conta que o seu sistema educativo está assente na obrigatoriedade e gratuitidade do ensino e que se pauta pela filosofia da inclusão. Fazem mesmo de conta que os seus filhos e os dos outros são iguais, ainda que uns tenham interesse pela aprendizagem e a outros apenas lhes interesse passar o tempo entre as faltas às aulas e o almoço que se aproxima. Não conhecem por certo o poema de António Gedeão que começa assim:
«Não há não
duas folhas iguais em toda a criação
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.»
Fazem de conta que os seus impostos (taxas e taxinhas incluídas…) são, meticulosa e racionalmente, aplicados nas reais necessidades da população e não na engorda de um Estado morbidamente obeso.
Fazem de conta que as instituições funcionam de forma clara e transparente e que, a haver prevaricadores, ser-lhes-á aplicado o justo castigo.
Na Terra do Faz-de-Conta fazer de conta já começa a ser demasiado peso para a cerviz de quem se preza… Até quando?…
Felizmente que nós, por cá, vivemos num país civilizado e nada disto se passa. Não podemos é apregoá-lo muito alto… Podem ouvir-nos aqueles alienígenas da Terra do Faz-de-Conta e ainda lhes dá algum ímpeto imperialista e nos invadem… sem fazer de conta…
Por: Norberto Gonçalves