É norma e tradição que a escolha do “homem do leme” seja feita entre os mais antigos, recaindo a confiança naquele que conhece melhor as marés, a rosa-dos-ventos e os vícios do navio, fazendo com que a embarcação corte as ondas deixando de bater a estibordo, governando assim os destinos de todos os tripulantes com distinção, honra e responsabilidade.
O “homem do leme” é um homem de pulso. Tem o poder de inspiração, capacidade para decidir, raciocínio rápido, assente no juramento, no conhecimento das marés, em princípios, valores que determinam posturas responsáveis fazendo com que todos os outros acreditem nele. Não pode dizer uma coisa e fazer outra. Não pode elogiar, condecorar e logo a seguir perguntar o «que é que andam por aí a fazer» ou assumir postura de surdo-mudo quando alguns dos seus pares o questionam ou atacam, esquecendo que muito daquilo que acontece à sua volta é da sua própria responsabilidade, pois dirige o navio, primeiro como contramestre, depois como “homem do leme”, já lá vão quase 20 anos.
É necessário entender que à sua volta convivem escaladores, garfeiros, parte-cabeças, passadores de sal que sabem utilizar a linha, o anzol, a rede, as chumbadas e as gigas como ninguém.
O “homem do leme” tem de saber respeitar o mar, as marés e sobretudo a História milenar desta tradição que já vem de Roma e Grécia antiga. Não pode ser fator de desalento. De instabilidade. E mesmo em tempo de crise não pode ser o primeiro a assumir que o pré (felizmente para ele é superior a todos os outros) não chega e, torna-se difícil compreender o jogo dirigido especificamente apenas e tão só para alguns, quando deveria ser, por jura, princípio e função, o exemplo vivo para toda a tripulação.
Pois é, se as eleições para o novo contramestre forem marcadas só lá para outubro próximo e, independentemente da legalidade da situação, é obrigatório fazer notar que afinal “o homem do leme” não se comove com os constrangimentos orçamentais mesmo que em outubro seja a data de apresentação do orçamento, nem com a despesa que, como todos percebemos, tem de continuar a descer e, ao que parece deverá gostar de ir dar posse a um eventual novo contramestre, na data em que as suas competências estão limitadas, pensando apenas em acordos pós eleitorais. C’os diabos…
Finalmente é de extrema importância dar uma vista de olhos pelos outros tripulantes desta aventura, a começar, desde logo, pelos contramestre e vice-contramestre, aliados nessa pretensa coligação de rilhafóis-de-cima com rilhafóis-de-baixo, para perceber a postura do imediato, de alguns oficiais, mestres de cabotagem, marinheiros do convés, os da maestrança, os da marinhagem e até de certos e determinados moços do convés, para entender se é agora, com todo este vergonhoso processo em curso, daquilo que é a verdadeira corrupção em estado puro, qual povo dourado, que tantos tentáculos tem (pelos vistos já rolam cabeças deste e daquele comando e quase metade dos oficiais já deviam estar no olho da rua por indecência e má figura), para todos ficarmos atentos olhando para o “homem do leme” para percebemos se é agora que assume a verdadeira e pura responsabilidade política, demitindo o contramestre e com ele todo este malfadado desgoverno. A ver vamos…
Desta vez tem de estar presente e vai ter forçosamente de dialogar com o imediato, maquinistas, escaladores e garfeiros do porão, pois se não o fizer, o navio encalha, fica a meter água, encafuado que está entre o bafio da proa e o canto da maresia, que só a letra da música dos Xutos e Pontapés nos consegue fazer entender: «Do fundo do horizonte/Sopra um murmúrio/para onde vai/do fundo do tempo/foge o futuro/É tarde demais».
Por: Albino Bárbara
*Escreve quinzenalmente