Eleito provedor da Santa Casa da Misericórdia da Guarda pela primeira vez no início do ano 2000, Jorge Fonseca concorre ao sexto mandato consecutivo e deverá ser candidato único às eleições que se realizam este sábado. O advogado de 67 anos garante que gostaria de ter oposição no ato eleitoral e considera que a situação financeira da instituição está «controlada» mas inspira «preocupação», não confirmando, no entanto, que o passivo seja superior a um milhão de euros.
Apesar do Compromisso da instituição não permitir, à partida, que o provedor possa exercer funções durante mais de dois mandatos, Jorge Fonseca adianta a O INTERIOR que os atuais órgãos sociais decidiram recandidatar-se porque os «próximos três anos vão ser muito sensíveis», necessitando a Misericórdia de «uma requalificação quase total» dos lares da Guarda e da Vela. O dirigente salienta que vai abrir um novo quadro comunitário e, como tal, «seria um desperdício» não se aproveitarem essas verbas, daí que a recandidatura se justifique essencialmente por esse motivo e «por estarmos dentro do problema, ao contrário do que se verificaria caso uma nova mesa assumisse funções», acrescenta, salientando que o projeto do lar da Guarda está numa fase «bastante adiantada».
Questionado se está satisfeito com o trabalho desenvolvido nos últimos quase 15 anos, o candidato argumenta que «temos sempre a impressão de que poderíamos ter feito mais e melhor» e que gerir uma instituição com «muitas valências» provoca «muito desgaste». Jorge Fonseca realça que a Misericórdia da Guarda tem perto de 200 trabalhadores, serve diariamente 600 almoços e 250 jantares, mantém uma Unidade de Cuidados Continuados com 37 camas, uma creche e ATL com mais de 50 crianças, dois Centros de Dia, entre outros serviços. O responsável assegura que «gostaria de ter oposição» por considerar que concorrer mais do que uma lista seria «um sinal de vitalidade da própria instituição», sublinhando que «quem vem, normalmente até sabe fazer melhor». No que concerne à situação financeira da Misericórdia, Jorge Fonseca considera a situação «controlada», embora motive «preocupações» pois «vivemos com muitas dificuldades», isto apesar da «gestão muito rigorosa» que tem sido levada a cabo.
O provedor da Misericórdia adianta que a creche e o Conservatório de Música, frequentado por cerca de 300 alunos, estão a gerar «prejuízo», ao passo que a farmácia dá «lucro», daí realçar que «umas valências vão ajudando as outras». De resto, o responsável não quis confirmar os números do passivo da instituição por considerar que seria «indelicado» da sua parte fazê-lo antes da Assembleia Geral de sábado à tarde, a realizar na Igreja da Misericórdia. No entanto, de acordo com documentos a que O INTERIOR teve acesso, a Misericórdia da Guarda apresentava a 31 de dezembro de 2013 um passivo de superior a 1,1 milhões de euros, enquanto que um ano antes era de cerca de 1,2 milhões. Para 2015, há uma previsão negativa do resultado líquido da ordem dos 165.213 euros e de gastos com o pessoal de cerca de 2,3 milhões de euros. Um dos pontos da ordem de trabalhos da reunião de sábado prende-se com a «consulta à Assembleia Geral sobre o reconhecimento da admissibilidade da recandidatura e respetiva reelegibilidade dos Irmãos que, tendo cumprido dois ou mais mandatos completos consecutivos nos órgãos sociais» se recandidatam para um novo mandato.
A instituição em números
• 1.123.407 € de passivo a 31 de dezembro de 2013
• 32.515 € de juros e rendimentos similares obtidos em 2012
• 18.998 € de juros e rendimentos similares obtidos em 2013
• 3.599 € de previsão de juros e rendimentos similares obtidos para 2015
• -238.323 € de resultado líquido de 2012
• -219.493 € de resultado líquido de 2013
• -165.213 € de previsão do resultado líquido de 2015:
• 2.269.378 € de gastos com o pessoal em 2013, dos quais 178.720 € são referentes à administração.
• 2.311.282 € de previsão de gastos com o pessoal para 2015
Ricardo Cordeiro