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Cogumelos venenosos fizeram mais uma vítima no distrito

Residente na aldeia da Mizarela, Joaquim Costa não resistiu à intoxicação provocada por míscaros que colhia desde a sua juventude

A poucos dias de completar 71 anos, e como fez tantas vezes ao longo da vida, Joaquim Costa confecionou e comeu míscaros por si colhidos. Contudo, desta feita os cogumelos que se assemelhavam a tantos outros que comeu eram venenosos e o habitante da aldeia da Mizarela, no concelho da Guarda, viria a falecer três dias depois, não resistindo aos danos provocados em órgãos vitais.

Foi na sexta-feira, dia 17, que Joaquim Costa preparou um arroz de cogumelos com entrecosto para o almoço, comendo o que sobrou ao jantar. Um dos seus genros conta que como eram poucos não guardou para o fim de semana para, «como aconteceu dezenas de vezes», preparar o petisco para a família. Daniel Rodrigues revela que o seu sogro ainda visitou a esposa que se encontra internada no Hospital da Guarda na tarde em que ingeriu os cogumelos e só perto da uma da manhã é que começou a sentir os primeiros sintomas: dores musculares e vómitos. Como Joaquim Costa tinha uma prótese nas costas, que, por vezes, lhe provocava dores extremamente fortes, a família pensou inicialmente que seria essa a causa da indisposição do idoso. De resto, só por volta das sete da manhã de sábado é que deu entrada no Hospital da Guarda, onde, de acordo com o seu genro, lhe receitaram analgésicos e comprimidos para evitar o vómito, tendo sido mandado para casa.

Só nessa noite, quando Daniel Rodrigues foi ver como se encontrava o pai da sua esposa, é que se lembrou de lhe perguntar o que tinha ingerido e foi aí que o alarme soou. Chamado de imediato o 112, ficou internado nas Urgências do Sousa Martins e por volta do meio-dia de domingo a família foi informada de que o estado de saúde de Joaquim Costa estava a «piorar devido a uma insuficiência renal e a uma infeção grave». Ao final da tarde, a família é informada de nova evolução negativa: «Estava a ter falência dos órgãos vitais e ia ser transferido para os Hospitais da Universidade de Coimbra», lembra Daniel Rodrigues. Foi aqui que «ainda foi lançado um SOS para um transplante de fígado, que seria a única hipótese de salvamento», e cerca das 20 horas de segunda-feira surgiu o órgão que poderia ter salvo Joaquim Costa. Os médicos ainda tentaram fazer o transplante mas cerca das duas da manhã chegou a notícia que ninguém queria ouvir:

«Ligaram a dizer que tinham feito o possível para salvarem o meu sogro, mas que os danos interiores eram irreversíveis e não resistiu», conta Daniel Rodrigues, que espera que este caso possa servir de «alerta» porque «todos os anos acontecem casos destes».

«Talvez tenha começado a apanhar cogumelos aos 10 anos e até agora nunca tinha havido problema nenhum e era uma festa quando apanhava e juntava a família para comer», revela o genro da vítima que tinha quatro filhos. O funeral realizou-se na passada quarta-feira. Nos meses de outubro e novembro, depois das primeiras chuvas seguidas de uma fase de bom tempo, é hábito haver um aumento da apanha de cogumelos e, por conseguinte, de situações de intoxicação, mas não há registos de muitos casos fatais por ano nas unidades hospitalares da região.

Ricardo Cordeiro A  “fronteira” entre cogumelos comestíveis e venenosos é por vezes muito ténue

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