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«Nunca tinha exposto na Guarda e achei que esta era a altura indicada para o fazer»

Cara a Cara – Ana Leal de Matos

P – Como é que se sente por pela primeira vez expor as suas obras na cidade onde nasceu?

R – Estava muito expectante quanto à forma como a inauguração da exposição iria correr porque não sabia como ia ser. Nunca cá tinha exposto, mas tinha vontade disso e achei que esta era a altura indicada para o fazer. Acho que em termos de afluência de pessoas na inauguração não esteve mau. Quanto à aceitação das pessoas só o futuro o dirá.

P – Na inauguração da exposição disse que era mais complicado expor na Guarda. Porquê?

R – Como a própria palavra diz exposição remete para expor e eu, se calhar, enquanto cá vivi nunca me quis expor. Agora é diferente, pelo facto de não estar cá mas também por já ter exposto noutros locais e essas exposições terem tido boa aceitação. Isso faz-me expor na Guarda com outra confiança. Se eu tivesse exposto na Guarda no início e se a aceitação fosse má poderia ter sido prejudicial para o meu percurso na pintura. Agora, se a aceitação for má, isso já não me irá ferir tanto no meu ego porque já tive outras experiências.

P – É arquiteta de profissão. Como é que a pintura surgiu na sua vida?

R – Sempre tive gosto pela pintura. No meu tempo chegava-se ao quinto ano e podia ir-se para pintura, só que não era um curso superior, e o meu pai dissuadiu-me da ideia. Foi então que optei por arquitetura, mas sempre a gostar de pintar. Embora não pintasse ia desenhando. No curso também tinha que desenhar muitas vezes, nisso eu tinha uma certa facilidade e aí saía à minha mãe, que tinha imenso jeito. Eu assino Ana Leal em honra à minha mãe porque ela é que era Leal. Comecei a pintar quando ainda vivia na Guarda, tinha trabalho e não tinha muito tempo disponível, mas houve um sábado de 2003 em que fui comprar um cavalete, umas telas e outro material. Foi aí que comecei, fui fazendo e isso dava-me imenso gozo. Em 2005 surgiu uma oportunidade de expor através de uma amiga minha que ia abrir uma galeria em Santarém e eu tinha bastantes quadros de que ela gostava imenso. Essa exposição correu extraordinariamente bem. Vendi imenso e tive uma aceitação muito boa. Foi um grande impulso. As restantes exposições que fiz, em Lisboa e em Leiria, correram todas bem, houve boa aceitação e eu não perdi o ânimo para além de gostar. As aguarelas foram uma coisa que eu sempre quis. Sou autodidata em tudo. Tive uma exposição em Lisboa em fevereiro do ano passado e nessa altura estava a começar com as aguarelas e levei quatro para a exposição, que entretanto vendi. Então pensei que ou são mesmo boas ou por serem mais pequeninas, e por estarmos em crise, são mais baratas e venderam-se bem. Entretanto, continuei até porque estava a gostar, daí a razão de eu ter imensas aguarelas nesta exposição na Guarda porque foi o que fiz durante este ano. Não vou deixar o acrílico mas esta é uma nova fase de que estou a gostar.

P – Como é que se pinta simplesmente com a memória?

R – Se calhar, não é com a memória… Toda a gente fala no pavor da tela branca e realmente é verdade. Eu acho que não é de memória que eu pinto porque quando me refiro aos meus quadros digo que nada do que está pintado, das paisagens, existe em concreto. As coisas vão surgindo e depois é uma questão de estética e de cor.

P – Tem algum pintor que seja uma referência?

R – É uma questão engraçada. Eu não pinto os pintores que gosto. A mim não me podem acusar de plágio porque, nem que queira, não consigo. Posso dar o exemplo do Júlio Pomar. A minha pintura não tem nada a ver com ele e sou sua fã, adoro a sua pintura. Nunca tentei imitá-lo e também não o vou fazer. A pintura que eu gosto não é aquilo que eu faço, uma vez que não consigo. Quando começo a pintar é aquilo que sai.

Ana Leal de Matos

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