As paisagens e a neve da cidade mais alta sempre influenciaram as criações de José Vieira, de 52 anos, que hoje trabalha sobretudo com fotografia em vídeo.
O guardense cresceu com as artes plásticas, tendo-se mudado para Coimbra, em 1987, para estudar artes visuais e depois pintura, mas «percebi que não me satisfazia totalmente em termos criativos e como meio de expressão», admite o artista, que teve no desenho e na banda desenhada outras paixões. “Libertou-se” das telas e, em 1995, enveredou pela arte digital, centrando-se na internet e nos novos terrenos que esta lhe permitia explorar. Este processo culminou com o “Artista Desconhecido”, «que criticava o sistema artístico e, partindo deste personagem, o meu trabalho desenvolveu-se na fotografia, vídeo e instalação», recorda José Vieira, que considera «faltar fazer tudo» pelas artes em Portugal. «Não existe uma verdadeira política de intervenção artística», critica, apontando como dificuldades os «incentivos e apoios, a estruturação e o ensino».
A fotografia e o vídeo são presença assídua no seu dia-a-dia, nomeadamente nas aulas que leciona na Escola Avelar Brotero (Coimbra), mas também a curadoria – na associação IC Zero, na qual dirige o Festival FONLAD, e na Cooperativa Teatro dos Castelos – «tem sido fundamental para o meu crescimento enquanto artista», considera. A residir na “cidade dos estudantes”, visita «regularmente» a Guarda: «Nos anos 90 cheguei a pintar paisagens inspiradas na região com cera e esmalte (“Paisagens Serranas”)», conta, salientando que depois «o meu trabalho assimilou um novo meio plástico com o digital, que apresentei no Teatro Municipal da Guarda, em 2008, com outros amigos».
As influências são variadas: Miró e Matisse dominaram a sua pintura mas, na «construção poética do sentido da imagem», Marcel Duchamp e Andy Warhol foram os que mais o marcaram. Com as suas obras quer questionar diferentes públicos: «Não me interessa provocar uma reação física mas sim inteligível: quero que o público pense diante da minha obra e se interrogue sobre o que vê ou sente», descreve. No futuro quer continuar com a «vídeo arte, seja na criação artística ou na produção de festivais e eventos», adianta o artista. Realizou mais de cem exposições ao longo dos anos, mas José Vieira destaca a “Bienal de Arad” na Roménia (2005) e a “Ars Latina 2009” em Cuba, bem como a participação nos festivais CologneOFF (Índia, 2012), Miden (Grécia, 2012) e Simultan (Roménia, 2013).
Sara Quelhas