Nasceu na Colômbia e morreu no México. Gabriel García Márquez, Nobel da Literatura em 1982, sofria de problemas respiratórios há vários anos. Faleceu ontem, aos 87 anos.
Em março, o escritor tinha estado hospitalizado durante nove dias, na sequência de uma infeção pulmonar e problemas urinários. Estava convalescente em casa desde 8 de abril.
Tratado carinhosamente por “Gabo”, ultrapassou um cancro linfático, diagnosticado em 1999. Segundo o jornal colombiano “El Nuevo Siglo”, a última aparição pública foi a 6 de março, data do seu aniversário. Assomou à porta de casa, na cidade do México, para saudar admiradores e jornalistas. Segundo o jornal colombiano “El Nuevo Siglo”, recebeu flores e pastéis e cantou com os repórteres que o visitavam.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, foi dos primeiros a reagir à morte do escritor. «Mil anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos! Solidariedade e condolências à família de Gabo», escreveu no Twitter.
Autor de obras clássicas como “Amor nos tempos de cólera” e “Cem anos de solidão”, vendeu milhões de livros e foi traduzido em 36 línguas. Nas palavras do jornalista e Nobel da Literatura (2010) peruano Mário Vargas Llosa, García Márquez provocou «um terramoto literário na América Latina» ao publicar “Cem anos de solidão”, em 1967.
Aclamado como escritor, sempre se considerou sobretudo jornalista. Foi correspondente do diário colombiano “El Espetador” em Genebra, Paris e Roma. Passou também pela Checoslováquia, Polónia, Rússia e Ucrânia. Num artigo publicado no diário espanhol “El País”, a 20 de outubro de 1996, referiu-se ao jornalismo como «o melhor emprego do mundo».
A sua admiração por Fidel Castro e o seu entusiasmo pela revolução cubana valeram-lhe duras críticas de muitos intelectuais. A 9 de abril de 1971, um grupo de escritores elaborou uma carta contra as perseguições a intelectuais por parte do regime cubano. A assinatura de Márquez é incluída e este manda retirá-la. A amizade com Vargas Llosa ressente-se e o peruano, que também havia subscrito a carta, acusa Márquez de ser um lacaio de Fidel.
O escritor colombiano desenvolveu também uma relação de amizade com o ditador do Panamá Omar Torrijos e os presidentes francês François Miterrand e norte-americano Bill Clinton. Em 1999, época em que era proprietário e cronista da revista “Cambio”, admitiu ter sido o mensageiro de um texto secreto enviado por Fidel a Clinton.
García Márquez nasceu a 6 de março de 1927, em Aracataca, uma aldeia perdida no Caribe colombiano. Ali cresceu na companhia dos avós maternos, Nicolas Márquez, veterano da Guerra dos Mil Dias, e Tranquilina Iguarán, que alimentaram o seu mundo de fantasia contando-lhe histórias, fábulas e lendas.
É-lhe creditado o género literário “realismo mágico”. Na cerimónia de atribuição do Nobel, em Estocolmo, surgiu vestido com o “liqui-liqui”, uma veste tradicional caribenha.
Ainda chegou a estudar Direito, na Universidade Nacional da Colômbia, mas a publicação de alguns contos em diários colombianos levaram-no a optar, inicialmente, pelo jornalismo e depois pela literatura. Em 1950, começa a trabalhar no jornal “El Heraldo de Barranquilla”.
Em 1961, mudou-se para a Cidade do México juntamente com Mercedes Barcha, com quem tinha casado em 1958. Ali travou amizade com o escritor mexicano Carlos Fuentes, com quem escreveu vários guiões para cinema, que não tiveram êxito.
Em 2004, a publicação de “Memória das minhas putas tristes” parecia indiciar o adeus à escrita. Então, o escritor disse que não escrevia porque parecia que já não conseguia concentrar-se o suficiente.
Além da sua rica obra literária, deixa como legado a Fundação para o Novo Jornalismo Iberoamericano, em Cartagena (Colômbia), e a Escola de Cinema de San António de los Baños (Cuba).